nenhuma esperança é feita de si/ tudo está para sempre acabado / redigo: que me queiram mal.
se todo o desvio é em si caminho, labuto na divergência: escrevo.
não mais.
não mais.
não mais.
e sobretudo no ato de escrever é que digo: escrevo.
e tomaste a minha pena a minha voz e agora a minha compreensão.
admiro muito minhas calças cor de camelo.
comprime o ritual nessa falta de mim.
e nunca estive tão só.
creio que poderia atirar-me ao rio e ir parar no Brasil.
se assim o fizesse, não seria feliz. mas que importa a felicidade?
é como um monte de musgo que um cavalo pisa indiferente se aquilo fosse bosta.
e eu tento falar contigo como outros falariam mas não consigo e tento te convencer como convenceria a outros e não consigo e me vejo mais uma vez na mesma cena de sempre só que dessa vez estás vestido de azul enquanto antes preferias o cinza, amor.
quem é que me vaga e vagueia?
não sinto nada, mamãe.
descubro à meia-noite de ontem que não te quero mais.
descubro é: meia-noite, és um gênio, e não tens um botão de play/ stop.
pela sabedoria não posso te odiar, nem chamar a ti de boneco de gelo.
se me perguntassem o que aconteceu eu responderia com "e azul". não diria outra coisa, não direi. podem dizer que vivo meu avesso. podem dizer que esperam das passagens das ruas coisas melhores pra mim e pra você, porque em fato tem todos medo de encarar a vida como ela é. o tempo.
no entanto, tu, encaras. e eu te olho como a um mamute num zoológico onde todos enlouqueceram achando que são macacos cheios de depressão no cu.
descubro-te rindo da crueza e com crueldade das coisas como ela são. odeio-te?
gostaria de gostar da idéia de levar minha mão na tua cara num tapa.
não sei o quanto silêncio há num sol escancarado. e quanto acreditar que as palavras vencem um corpo. ao meu elas sempre venceram. estou mais uma vez só com elas.
será essa a minha sina para sempre, estar comigo e com as palavras e te juro, que não me lamento, nem arrependo e nem gostaria que fosse diferente.
gostava de voltar a essa sinceridade mais vezes.
mas por hora me calo, espero o inverno passar.
não sei se a nossa nobreza nos consola ou piora. afinal, não somos deuses.
talvez se deuses fossemos poderia eu sublimar em criar estrelas.
mas, no fim, até posso. faço versos: cartas de adeus que dizem: fico mais um enquanto.