30.4.06

o princípio da dança e da fossa

é a primeira vez no ano que esse frio nas pontas dos dedos aparece, o que talvez tenha certa influência na continuidade dos assuntos. em abril volto a ouvir o fa-tal, só que dessa vez combinado com mozart, em random. há melancolia e sorte. não lembro que outro abril tenha sido assim, o que em mim vive de livre batalha por mais liberdade, como um gigante de olhos doces que pela ponta dos dedos leva até a boca e engole uma masmorra, com as ferragens pinçando no céu-da-boca. no dia seguinte, claro, há indigestão e há diarréia ou prisão de ventre. em outras palavras, é a apreensão das coisas por mais inteiro, a comunicação, que é fado estabelecer, entre meu lado esquerdo e meu lado direito, ambos fatais, ainda mais quando alongados. afinal, a elasticidade também é mental e o pensamento tem de ser corporal.

29.4.06

bem aventurados os nascidos em abril iii

o do bocous é hoje mesmo, meu amigo maior que deixa tudo com cara de cinema, que a gente se revê só mesmo quando há e vai que é o diabo. “bocous é o princípio do agir em si.” quando ele descobre, desdobra e afunda, porque quando se some é pra se destinar aos fluxos. é aquela história, nele há uma coisa ausente que atormenta e todo o tempo tudo e nada, ao mesmo tempo. com isso, o fásico às vezes pára na tranquilidade e ele desliza, minha ostrazinha.

bem aventurados os nascidos em abril II

bem sei que as arredondo assim, também. mas a mari compõe o direito, meu woodyallenzinho, que faz 22 anos amanhã:

no flashs! thanks















mariana explica os assuntos das coisas aos donos do mundo

bem aventurados os nascidos em abril

pelo aniversário da clarisse, que foi dia 18, a tradução de G.H. Cavalcanti ao poema “Le morte chitarre” de Salvatore Quasimodo, allegro vivace assai:

Os violões mortos

A minha terra é sobre rios junto ao mar,
nenhum lugar tem voz tão lânguida
onde meus pés vagueiam
por entre juncos pesados de lesmas.
Não resta dúvida é outono: no vento esgarçado
os violões mortos vibram suas cordas
sobre a negra boca e uma mão agita os dedos
de fogo.
Ao espelho da lua
meninas com peitos de laranja se penteiam.

Quem chora? Quem chicoteia os cavalos no ar
vermelho? Pararemos nesta margem
ao longo das correntes de grama e tu, amor
não me conduzas frente àquele espelho
infinito: nele se miram rapazes
que cantam e árvores altíssimas e águas.
Quem chora? Eu não, crê-me: sobre rios
correm exasperados, ao estalo de um açoite,
os cavalos sombrios, os relâmpagos de enxofre.
Eu não, minha raça tem facas
que ardem e luas e feridas que queimam.

28.4.06

27.4.06

::
dias atrás encontrei um amigo que me disse como se estivesse muito surpreso 'mas você está desanimada? parecia que estava tão animada...' eu não entendo se meus ritmos flutuam demais ou se há outro significado da palavra 'humor' que eu desconheça, mas acho que já faz alguns anos que eu não deixo nenhum dia de constatar como eu me sinto, como vão as coisas e, como hoje, como eu me sinto nas coisas. a resposta é:
mal.
::
não ouço cazuza há anos e toda semana aparece uma nova música dele grudada na minha cabeça.
::
esses posts de anotações biográficaças são retrato da masmorra de tédio intelectual que eu tenho vivido.
::
retrato mais fiel é essa música que a salmaso canta:
eu não sei o que vi aqui
eu não sei pra onde ir
eu não sei por que moro ali
eu não sei por que estou
::
meu amor, tudo no deserto está muito certo e eu sempre soube que vim pra ser assim.

25.4.06


talvez seja a falta de você que transitou-se em saudades generalizadas que obrigam a minha ansiedade a perceber que hoje é hoje e o tempo é realmente frágil, falso e não há t.s.eliot que me acalme. e que não é minha casa antiga, meus amigos passados, meu estabelecimento escolar formado, meus antigos amores e nem minha casa nova, nem meus amigos prováveis, minha profissão em andamento e meus notáveis amores, quê? indo assim, só me restará a flora e a minha incapacidade de síntese.

é só essa rinite passar que semana que vem voltarei ao lsd.

a polissemia do discurso

vocês são uns paranóicos

23.4.06

eu gosto dele que vai sempre pelo caminho de ninguém,
que nenhum fez

21.4.06

e quero que você venha comigo

vista daqui até que sp é uma cidade bonita

quando eu chego em casa nada me consola
sempre aflita
lágrimas de cortar cebola, você não acredita
a coca-cola, eu tomo
eu como eu como eu como eu como
você não tá entendendo nada quase nada do que eu digo
eu quero é ir me embora
eu quero é dar o fora

eu me sento
eu como
eu fumo
eu não agüento

eu quero é tocar fogo nesse apartamento
eu quero é correr mundo
correr perigo


::
se eu saio da análise com essa parte dessa música na cabeça:

não ligue pra essas caras tristes
fingindo que a gente não existe
sentadas, são tão engraçadas
donas das suas salas

o que significará? quem é o dono da sala? mas quem é que tem a cara triste? hmnf

20.4.06

quando o descanso se fez, num rompante, necessário, as coisas se aconchegaram naquelas letras, tomando pelas mãos o timoneiro, o capitão decapitado se recompos e até mesmo o papagaio que dormia no sol acordou pra ver o motim, naquela festa do batismo do nome do barco:

eu escrevo seu nome nele só pra demonstrar o meu apego

::

18.4.06



1.
Ainda que seu pai tivesse planejado para ele um brilhante futuro no exército, Hervé Joncour acabara ganhando a vida com um trabalho insólito que exigia, por singular ironia, maneiras de tal forma gentis que denunciavam uma vaga entonação feminina.
Para viver, Hervé Joncour comprava e vendia bichos-de-seda.
Era 1861. Flaubert estava escrevendo Salambô, a iluminação elétrica não passava de uma hipótese e Abraham Lincoln, do outro lado do oceano, combatia numa guerra da qual não chegaria jamais a ver o fim.
Hervé Joncour tinha 32 anos.
Comprava e vendia.
Bichos-de-seda.


::
eu encontrei o Alessandro Baricco por acaso, numa tarde um tanto quanto mau humorada na livraria aqui ao lado, pra onde desci pra tomar um suco de laranja com morango (experimentem com santal que fica melhor) e estava decidida em comprar 'o retrato do artista quando jovem', afinal, é um daqueles que nunca li e desejo que lerei. então foi de repente, com o livro já debaixo do braço, preço consultado e barato, que me subiu uma irritação pela subserviência comum desse trabalho mental-intelectual e no auge do meu tédio com vai que saco, james joyce, um livro jovem de 1916, tem até verbete em português, não enche, comecei a folhear mil coisas, foi aí que o Seda do Baricco, apareceu e começou assim, adorável. delicioso, seria mais preciso, mas mais cafona também.

e vai, o joyce nem ressuscitado pelo pitanguy entrava pra nuestra lista de indispensáveis assim, tão ó na foto.

como se vuelve siempre al amor

ontem, chegando em sp, garoa fina e dez metros de tecido por cima do corpo, pensei se seria mesmo possível que essas 17 milhões de pessoas estejam se equivocando juntas?
::
votos de silêncio com as vagas dos estacionamentos, cimento, vagas das ondas, a água quando parece como acúmulos entre as pedras. silêncio, paire, silêncio.
até a ordem da música.
silêncio como na música. como dizia mesmo o murilo mendes?
::
no tema 'cidade', tem aquela do Rosa, em carta, explicando prum amigo, porque a primeira coisa que fazia ao acordar em Paris era ler um jornal inglês e outro americano:

"Paris é o pior pôsto, para a gente ter uma idéia geral do desenrolar dos grandes acontecimentos do mundo. Em cidade tão formosa, tão gostosa, tão requintada e dôce, a atmosfera não podia deixar de ser excessivamente branda, capciosa, enganadora, narcotizando as preocupações, adormecendo os receios, pondo vendas de seda perfumada nos olhos do indagador."

10.4.06


isso sim é boa,
na verdade um fenômeno inusitado que tem me acontecido faz um mês: desconhecidos têm me confundido com conhecidos deles. aconteceu na rua, na mesa da lanchonete da faculdade, no ônibus, na escola de dança, no bandejão, na loja de discos. eu sei que estou passando um processo de muita mutação, mas não sei o que está rolando pra esses aproximações de desconhecidos que acham que me conhecem estarem realmente convivendo comigo, parecendo um fenômeno demonstrável e com certeza nada sobrenatural. o mais curioso é que nenhum desses desconhecidos me abraçou de sopetão com sincera efusividade ou alguma espécie de radiação. na verdade, fui sempre pessoas difusas na imaginação desses que pensaram me reconhecer, quer dizer, não me confundiram com alguém colado, mas só próximo a eles, lembrando que nesse último mês fui "a irmã da melissa do balet da cidade?" ou a "filha da dona noêmia que mora no brooklin?". todos que se aproximaram estiveram em dúvida de eu ser ou não ser. também me parece notável que eu não conheça ninguém com nenhum desses nomes, absolutamente não poderia personificar nem na cunhada da vizinha da tia joana alguém com os nomes que me disseram. talvez seja gente que não existe se comunicando comigo. talvez eu esteja com uma cara mais abordável. ou com uma cara mais difusa e em uma nova claridade.

agora eu tenho medo de que essas abordagens parem e eu esteja me tornando a júlia de novo. quer dizer, perdendo o fluxo, porque eu me sentiria como alguém que rompeu, puxando o freio no meio da aceleração.
babe, i'm lost cause

entre os livros ele veio aparecendo. uma lembrança vaga de um percurso nessa direção minha. o sol pela janela esquerda não esquentava a mesa de fórmica mas emancipava seus olhos pra cima. ternura e um nada. porque foste em minha alma como um amanhecer. mas veio o escuro. porque foste o que tinha de ser. um homem sai de casa para enfrentar um touro e não sabe disso ainda.
::

o drummond tem um poema, sabe? não me lembro muito bem, mas é que se de repente algum encouraçado louco atingisse a baía de guanabara, imaginem? no meu caso tinha que atingir o cemitério nova necrópole ou o sushi do sacolão. talvez no tomie ohtake causasse algum ruído estrondoso por aqui. já disse, acalma menina, sua casa não está pegando fogo, não esqueceu de nenhuma panela? não, não não. o poema continua:

o edifício é sólido e o mundo também

esse verso é tão incrível quee me dá vontade de pular no teto do vizinho pra que o careca entenda do ódio que eu tenho do modo como ele trata o filho dele no elevador.
::
algum destino é sempre trouxo. eu acredito no encaminhamento das coisas e espero mesmo que você viva dias melhores do que esse domingo, rapaz.

eu já tenho vivido tudo com muita insegurança. e, realmente, não entendo mais nada. ouço gente demais meu rol de vocês são muitos e cada vez maior. também não entendo nem desse cansaço de todos vocês, absolutamente, estampado nas caras todas, a começar pela minha. viver é muito pegajoso.

aquela música linda do jards devia mesmo ser modificada:
porque hoje eu vou fazer,
ao meu jeito eu vou fazer
um samba sobre o movimento
(que o "infinito" é para os fracos e os físicos, não dos poetas)

9.4.06

canção de amor, saudade

aeronaves seguem pousando sem você desembarcar.
no dia em que você foi embora eu fiquei sentido saudades do que não foi

venha, me encontre nesse ápice e acalme.

::
um dia teve assim:

uma por vez chaga
chagas em compasso

como o som de um hipopótamo troiano
(tem que ser troiano, se não, não aceito)

enquanto destaco uma por vez as chagas
a primeira
as quatro paredes as paredes se deslocam
tombam na rua e eu não vejo o mar nem a sua doçura.

também nunca dei a homem nenhum o dispêndio da minha dor e por isso esperei ter sido melhor recompensada. hoje não espero mais nada, porque se os homens valem além da minha bondade, que segurem-na nas mãos.
::
uma necessidade de silêncio que vem o coração e diz, só em seus braços, etc.
ninguém nunca entendeu são paulo.
"São os caminhos de um homem que se levanta e diz: -eu dormi, pensei, mergulhei no meu silêncio; sou forte; preciso sair. O dia é de sol, dia ardente e pesado que faz tremer a terra. Esse ardor entra pelo homem dentro como uma onda, liga-o todo, entre a cabeça e os pés, liga-o ao mundo à sua frente. A casa fica lá atrás- fechada, fixa-, para um homem se deitar e sentir o sangue correr na carne. Serve para dormir, acordar e pensar e de novo dormir, e de novo reunir as partes de uma dor, ou uma força, ou uma experiência muito velha no coração. As lagartixas estacam bruscamente na poeira, recomeçam um jogo impenetrável. As moscas traçam no ar a sua geometria hermética. Sobre todas essas coisas o sol bate diretamente, e torna-as a um tempo fluidas e violentas."

Herberto Helder que é meu pai e meu irmão afilhado. d´Os passos em volta. e eu continuo em busca dum apartamento.

2.4.06

everything inside is made of stone

estavamos ali vendo o documentário sobre o bob dylan.
muito o que aprender sobre desintegração e amálgamas. maneiras de ser fixo.

venho como num destaque, fronte de exército, é preciso respirar seu próprio anseio para conseguir descansar. soma-se a isso a leitura do seu comentário e, realmente, vocês dois são do tipo que fazem da existência mais bonita. mas eu concluo pra você que as panes só aumentam.

nas horas do fim do dia, os carros tomam conta de todas as minhas redondezas, meu território é deles, as lâmpadas vermelhas que dentro dos quadrados de vidro vermelho acendem, mutuamente se indicam que "Pare" e o carro outro recebe a instrução pra que "Pare" e param e outro carro,... para cada carro há inalienáveis pares de luzes vermelhas, trocáveis. e a cidade começa a parecer um verso ressoando, a cidade tem seu marulho, são os silvos dos freios que aumentam em tanto desgaste e viram os apitos que os freios dos carros fazem no fim do dia numas luzes vermelhas contínuas, como contrafluxos venais que acendem. nessas horas mesmo do dia, quando o trânsito inteiro pára eu reparo em como o gênero humano foi mesmo feito para a sintonia, afinal, mesmo com o ritmo sincopado e descontínuo dos silvos, no geral, morre-se pouco. (muitos se morrem vivendo, mas isso já é um estudo para a Era das Corporações) o coletivo de homens é grupo e eu me pergunto, quando alguém falha todos falham? não me importa, nem a resposta da década de 60.

eu falho. tu falhas. ele falha. etc. é maior que a gravidade.
não descarto ninguém.

mas acredito sim, no acerto, não como possibilidade, necessidade ou dádiva, mas como acerto simples acerto assim. lalala eu disse ''acerto''.

ainda só sei isso. desde a tarde de ontem sinto uma nova necessidade articulada a minha falta de destino. ainda só sei isso.

como diz o velho dylan 'demorei muito tempo pra aprender a ser jovem' e agora me dê uma coragem, já não é mais, são eles que diziam que o futuro era ontem. não acredite, c., não acredite. eu que tomo conhecimento do contratempo pelas aulas de dança, sei que é preciso esse disparate nas coisas, de uma coisa que vai contra o seu favor, entendo de coisas muito várias. entendo de rios. você entende de rios que eu sei. e entendo mais da morte. eu pensei ''bonito''. é assim que deve ser. venha fazer o tempo, que eu desfaço. meu rastro é seu. venha se for preciso e é quando quiser.
how does it feel
to be without a home
like a complete unknown
like a rolling stone?
 

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