26.5.07

debruçada na janela que não dá o saber do tempo, porque o sol é um visitante que se parece comigo e se despede antes de vir, fiquei olhando com inveja e carinho para o gato da janela do vizinho que mora encostado naquele vidro,
ali onde bate sol
percebo que sonhei com você. e ninguém vai saltar da janela ou sair da porta do banheiro para me fazer companhia nessa manhã tão fria. claro como isso só a exatidão que não sei quem é você?, mesmo que a imagem do seu corpo esteja presente, essa xícara de chá está mais próxima de mim do que o retrato do seu fatal lado esquerdo esforçado em se vestir como mamãe queria
reparei que o meu gato, quando crescer, vai parecer com o gato da janela do vizinho, como um heterônimo do sol e, que apesar de afônica e cheia de metafísicas,
estou de pé, acordada e repleta de esperanças
pois jamais tentei dormir sobre essas páginas
e te peço pra que veja na carne do poema o que já não é escrita, pois o gato vive em nós,
e fatalmente se sabe que isso já não é amor e talvez nunca tenha sido, é sempre crise
mas tão diferente da crise do sonho
em que eu te dava um beijo e te chamava de meu bem tão no canto da boca e me arrependia dessa também, coisas que me fogem pelos lábios, gestos tão ágeis e certos e logo tão ásperos.

16.5.07

now it's time to leave the capsule if you dare

eu era um avião dando voltas em berlim. com o punho encoberto no dourado, carregava um gerânio talhado em cada asa. nesses parafusos da alta-costura me escondia, o espadachim vestido de lataria, eu firmava a grande patente do céu, azul e doido, demais.

deixando em paz a germânia, voando em círculos, vivendo, como quem vindo se desfaz para trás, aeronave foi rompendo, reluzindo para cima. nem se via lá debaixo, quanto de mim partia. na cabine a conversa dum construtor com o meu pai. descubro que sou assim, tão sem dona de mim, nessa minha falta de cais.

a janela da cabine forçando, que não era de tais alturas, os botões convulsionando, não sei mais arranjar estrutura. e o painel do radar estoura. nesse caco o co-piloto perde a glote e eu aeronava, subindo, subindo o terror das aeromoças
por capricho, tesão ou cura quis comer um dois três pacotinhos de amendoim com o piloto tão sem dono de nada,
enfim.

4.5.07

one from the heart




Ela dorme, morna. E não sabe para onde ir. Quando acorda também, mas

No sonho ela está numa paradisíaca Ilha, chão de conchas brancas, aguazinha cor de piscina. Onde ela se conheceu com ele. Quando olha para o lado, está num posto de gasolina shell Amarelo e Vermelho. Blue, like monday evening, está o coração dela. Ela quer amar e para isso não precisa amarrar os sapatos brancos. Mas alguma coisa que falta. Entra na loja de conveniência, conversa com o cara do balcão. Trata-se da recepção do jornal do país. Pelas paredes de vidro blindex ela olha lá fora. O azulzinho vem do vidro e se remete para a água. Parece que começou a chover. “Pensei que tivesse entrado pra comprar uns cigarros”.
-Cigarros? eu tenho muitos. Quer?- diz a outra pelos ombros dela.- Eu vou até ali em cima pegar. Quer?
Ela pensa que a outra pelo menos deve ter notícias do outro e escolhe ficar junto dela. A outra sobe as escadas e ela sobe também. Não se lembra dos cigarros e não sabe se subiu pelas notícias. Ela não repara que está indo atrás da outra que abre uma porta de madeira clara e entra pra um outro compartimento. “Ali eu não posso ir," ela pensa e senta na frente de um Ibook. Espera, espera olhando o descanso de tela. A outra sai de uma porta e por trás d’Ela atravessa a sala retangular, entrando em outra porta. A outra

repete a mesma passagem por trás d’Ela algumas vezes. Como os homens da família, hoje ela está de camisa e procura pelo maço no bolso. Ainda sem. E decide levantar. De repente uma nublação na cabeça. Não lembra mais se ela subiu porque a outra deixou. A outra parece atravessar a sala com olhares cada vez mais persecutórios. De repente “não era para eu estar aqui”, de repente desconhecida, “de repente a outra me reconhece”. Não salta da janela, filha minha, encontra a porta de saída descendo a escada, vira a maçaneta com tranqüilidade. O porteiro nem te olha. “Vou ter que explicar para o outro o que eu vim fazer aqui?” e atravessa a rua, as lagoas sumiram, não se volte para o mar, e ele há de voltar, vai lá, continue nessa, assim, street walking cheetah, with a heart full of napalm

 

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