29.4.07



28.4.07

gentem!, minha avó me adicionou no messenger!
A Virgem Maria

O oficial do registro civil, o coletor de impostos, o mordomo da Santa
Casa e o administrador do cemitério de São João Batista
Cavaram com enxadas
Com pás
Com as unhas
Com os dentes
Cavaram uma cova mais funda do que o meu suspiro de renúncia
Depois me botaram lá dentro
E puseram por cima
As Tábuas da Lei

Mas de lá de dentro do fundo da treva do chão da cova
Eu ouvia a vozinha da Virgem Maria
Dizer que fazia sol lá fora
Dizer i n s i s t e n t e m e n t e
Que fazia sol lá fora.

(manuel bandeira)

22.4.07

No seas insegura, eso dejámelo a mí/ Hombres con armadura abundan por aquí
No seas tan celosa, no hay ninguna como vos/ Además te ves preciosa cuando el celoso soy yo
kevin johansen

Deito bem escovada. Com o cheiro do lençol novo fico que me agito, não sei bem onde mora essa aflição das sensações não serem estáticas. Entre os meus dedos sinto os filetes na penumbra, uma das poucas coisas que eu sei é que isso aqui é o cabelo dele, que, preto, é o que há de mais preto no mundo. É também o cabelo da minha mãe reinventado.

Inicio minha luta pelo sono. Apaziguo as atividades de amanhã, lembrando de ontem e antes de ontem, falo pra ele sobre o meu pulso dobrado que incomoda. Falo pra ele que desde criança o medo de dormir me obriga a falar. Hoje, como se pedisse desculpas e com isso me avantajasse de liberdade, me peço sossego.

(continuo avaliando. do amor, o medo do sono, o medo da velocidade, são todas as quebras da minha entrega? já vejo assim, como um risco em termos de “entrega”, “escolha”, tudo tão pejorativo quando se rastreia!)

Logo voltamos a uma tarde inteira de passos alados, com o cansaço da sua mão me puxando os ombros para trás (é por causa da idade, que delicado) e, depois de perceber, alinha a nossa postura.
Conta sempre que não há despedida pra mim? Sou o seu esboço, a moça dessa cena que te olha e sorri dizendo:

“Tenho medo de que não seja para sempre.

Você me vê na estrada invisível da beira d’água? vamos olhar os olhos no reflexo?". Cenas brancas e cenas estáveis. Depois cenas da hora de escurecer. “Olha pra lua, eu não te esqueço”. A minha fraseologia cravada nas suas costas, faz você lembrar que quer tirar a roupa das minhas palavras? "Dispa-se, mulher".

Passa os dedos entre os fios do cabelo dele, retoca o cabelo dele pra sentir a falta de uma mímica condensada do amor. Saímos do universo do gesto. Estamos sós, eu me desencantei de mim mesma, acontece sempre. Minha cabeça encosta na sua, fazendo o contato entre as partes desentendidas. Quantas horas será que eu vou conseguir dormir, se você vai acordar antes?

Em algum momento me venci, passei, é de manhã finalmente.

Ele gosta tanto de cantar quando é cedo. Canta um pedaço só de cada música, sem perceber, como um afresco que só tivesse cheiro. Coloco sua voz como o meu fone de ouvido, quando você se levanta, debruço na sua fronha da minha casa. Bem cedo te farei um café, toda manhã seu. Eu sou a moça dessa cena, lembra? que todo trecho entende como sendo dela e para ela, porque o homem que canta de ouvido e acaso, canta dentro do clima e por ossatura.

linger on, your pale blue eyes

ter memória é como ter audição, olfato ou tato? quer dizer, por estarem todos no corpo são inseparáveis e por isso um cheiro lembra algo ou o tato se faz gravado? e, assim como envelhecemos e perdemos um e/ou outro, o fado da memória é o apagamento?

algumas culturas vêem no arco-íris duas cores, outras doze.
na escola se aprende quantas cores tem o absurdo:
(são sete)
a noite, a visão, o vigor,
a falha,
o riso e o esquecimento

(http://saidthebird.multiply.com/music/item/276)

13.4.07

acho que a literatura já é uma espécie de mutismo no sentido de que é necessário um outro para ela se fazer. mesmo se for para expulsar esse outro da narrativa, ele está ali, o expulso. se ninguém abre o livro que ele escreveu, o livro não existe. eu penso isso em todas as livrarias que freqüento, com os excessos que encontro nas prateleiras e poucos (ou nenhum) livros seduzem. preciso escrever uma história que se eu encontrasse numa livraria eu gostaria. estou escrevendo uma história que pode demorar anos pra ser feita, como a minha própria vida, pela estrutura que eu tenho planejado. acho que isso me seduz, eu nunca soube manter uma atividade assim por muito tempo e qualquer coisa que me faça acordar todos os dias, como um filho faria, é um planejamento estrutural, vital e um baile no tédio.

---:----
roland barthes: "todo estilo é um segredo".
clarice lispector: "quanto a escrever, mais vale um cachorro vivo".
---:----
vamos caçar razões e astronautas?

lendo humano, demasiado humano: "assim como aumentam as geleiras quando nas regiões equatoriais o sol atinge os mares com mais ardor do que antes, também um livre-pensar muito forte e abrangente pode ser testemunho de que em algum lugar ponto o ardor do sentimento cresceu extraordinariamente".
---:---
como será que o rosto dele vai ficar quando envelhecer mais?
(vinte anos daqui em diante,
sem beijos de despedida dessa vez
seu charme ainda, espero, vai me fazer sofrer
boa viagem que você se exploda dentro de mim
até o fim.)
cassandra diz:
a minha voz também tem muita questão. você chega lá quando?
antônio diz:
comecei a contar essa história pra saber o que não é.
cassandra diz:
sei, daí os papéizinhos voam milhares no chão de cimento que parece granito.
antônio diz:
eu prefiro caixas ao chão, cassy. prefiro nenhum termostato da dor.
cassandra diz:
não deixe barato. vou comprar nívea sun pra gente comer: o barato é que deus me deu.
antônio:
eu parei de comer.
cassandra:
e eu não queria ter fome.
 

Free Blog Counter