31.10.07

I'll be your king volcano right for you again and again

Eu não sabia quem era o mister e quando saiu do grande casarão um homem lindo eu me ataquei. Ele entrou no carro, disse algo com party para o motorista e me deu um grande amasso molhado. Chamei-o de my dearest e cold cold fire! era o David, my velvet goldmine! A festa era cheia de luzes vermelhas e sons obscuramente incríveis, chegamos abraçados e como nos amávamos tanto! Em cima da mesa de sinuca, rolávamos por todos os lados e cantos. Ele me dizia que ao meu lado tinha voltado a ser adolescente, mas que isso tinha também lá seu dark side. Me perguntou se eu não tinha visto o Lou por lá, que o cara era um folgado que desde que tinha começado a fazer análise virou um pentelho e charlatão e tal. E, entre beijos estalados, me prometeu que, se eu nunca mais o desprezasse, aquele vestido lindo e listado seria meu.


Ok, então, ok,...

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carlos drummond de andrade completaria hoje 107 anos. tá morto, o poeta, no meu coração meio enterrado também.

26.10.07

foi preciso chamar a atenção das crianças
que tiravam frutos do pomar
e descascavam laranjas com facas sem corte:
não se ponham a arrancar as ervas do chão que a gente pisa
como meninas desprezadas e raivosas.

no pátio interno
depois de uma ciranda
é proposto pedagogicamente
que se faça um desenho feito um contrapeso do que a nossa cabeça pensa
e as crianças todas riem de satisfação
e o menino mais novo,
um cata-vento trazendo o cheiro do laranjal
veio na direção do meu amigo Lero - - - o guindaste,
e disse pra ele que não dava pra jogar aquele jogo:
-é a cabeça que pensa ou é o corpo inteiro?

o Lero que era só corpo
o Lero que não lia Sontag
o Lero quando se agitava
a gente ia junto pra praia
ele imensão pegava os prédios em redor com a sua garra
pegava as pessoas e as barracas de sorvete
arrancava as pedras do calçadão
tirava de mim toda essa lembrança
e lançava tudo ao grande verde.

feito tudo fosse aquário cheio de peixes
que um dia se descobre decorativo
e afunda no meio da água do atlântico
silêncio violento que se ouve do cais
e os peixes libertos todos
se põem a contar notícias de além-mar.

17.10.07

não sei se estou confusa ou foi o mundo que se abriu de tanto girar hoje de manhã quando acordei com sono olhei bem lá a torre uma das antenas das quarenta que existem na vizinhança a que dá pra ver das janelas do quartos tinham três homens subindo vestidos de azul o céu estava nublado e eu, procurando por alguém, acendi um cigarro com a torneira da pia em que meu gato estava a se lavar.

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todo amor que houver nessa vida, pra vocês.

14.10.07


Foi preciso chamar a atenção das crianças: parem de arrancar a grama, vamos fazer um desenho feito um contrapeso do que a nossa cabeça pensa. É a cabeça que pensa ou é o corpo inteiro?

O orelhão de perto de casa já tocou umas três vezes essa noite. Parece que perdi o sono. Parece que não me chamam de casa. Parece que a casa deixou de ser e esse cobertor morno só me enrola. Se você me convidar pra dançar eu recuso. Tenho o meu bailado, mequetrefe que seja, comigo mesma, noite adentro.

Vou extravasar num e dois e três: essa língua portuguesa é uma realidade mesmo, que coisa estranha, Clarice Lispector - - - a coisa estranha- - - dizer que queria não ter aprendido outra língua de tanto que te ama, português. A frase dela é bonita também porque prevê um comentário como o meu: se não tivesse aprendido outra língua, claro que não saberia como é está portuguesa. Português do Brasil. Faz diferença? Beibe, há quanto tempo assumi que muita. Mas será possível não desejar o alcance de outra língua, como o inglês, o latim ou o sânscrito? Me parece que seria como aqueles que pedem perdão a todo tempo o tempo todo, sendo que pra pedir perdão mesmo, pra ser perdão acabado, tem que ter cometido. E se eu cometer noutra língua, como vou enfiar a minha na boca e andar por aí? Tá certo, Clarice.

É e eu também quero os pés leves e desamarrados dos tecidos. Queria também ter mais fotos do dia de ontem. Tirei uma do guindaste. Guindaste é lero-lero dos iniciados. Diga sim que isso me diz muito, vou me aproximar cada vez mais desses sorrisos. Não tenha medo de colar em si mesma, ela tanto já te habita. Dias muito irrigados. Luz que arrebenta a cabeça, fecha os olhos irrigados de sangue. Sangue que se expõe ao perigo.

deixas o verão deslizar de mansinho
para o cobre luminoso do outono e
às primeiras chuvadas recomeças a escrever
como se em ti fertilizasses uma terra generosa
cansada de pousio – uma terra
necessitada de águas de sons de afectos para
intensificar o esplendor do teu firmamento
(al berto)

7.10.07

que maravilhosa encruzilhada essa
parede branca do meu quarto
se saio dela logo me permito
a resolver ir a rua
convidar algum amigo para

uma cigarra canta perto da minha janela
nessa terra coberta de espigas não-halógenas
de vida útil muito longa e eficiência constante geralmente apresentam em seu bulbo uma certa quantidade de iodo

e os amigos são como flores
secas que a gente leva na lapela
às vezes ao alcance da boca
palitando dentes feito cowboy
até que um dia a gente mastiga
e cospe nada além de pó

cantem, cantem todos nas fileiras do meu pensamento
logo estaremos daqui um quilômetro
estrada de terra percorrendo o milharal.

2.10.07

O céu descoberto para vê-los passar. Se olharmos de cima, além da cabeça retraída, vamos ver a tensão no ombro que vem desde o meio do peito, porque carrega um dilúvio que nunca aconteceu, nem nuvem se formou, como se o tempo tivesse ficado tão sem água, tão sem chuva, que, de tão seco que ficou, cristalizou-se. Ela também tem uma forma cristalina, mas não rochosa como a dele, para ela só não existe fora ou dentro. Ela passa num mundo sem gravidade em que o sol poente não precisa de nada para ir. O leitor mais desconfiado com ele se parecerá. O mais impreciso, com ela. Mas e se ambos, na verdade forem um só? Em meio a tantas adversidades é necessário narrá-los.

1.10.07


Revenge of the goldfish, Sandy Skoglund
 

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