eu aqui também moro em frente dum supermercado. e é importante dizer "super" porque se não em Portugal "mercado" é o que no Brasil se chama de "feira". pois então, fazia uma semana que eu não ia ao super. estava com as costas doendo e mal humorada. cheia de tristeza, de saudade, de dúvida e medo. e, principalmente, de saco cheio de tantos afazeres domésticos que, pensava eu, me emperravam o desejo de ir ao cinema, estudar, começar uma nova pesquisa na biblioteca, sei lá, andar até um miradouro qualquer e olhar o Tejo indo pro mar. mas fui lá, leite, ovos, espinafre, arroz, essas coisas. evitei o chocolate que sabia que melhoria meu humor, mas depois? é um respeito. que vontade de comer goiaba.
tava meditando que de novo comprava o trident tropical mix já no caixa quando um senhor de uns 90 anos se aproximou vindo da rua de bengala, naquele ritmo de passo a passo, vestido de fato xadrex em marrom, velocidade de 1/4 de metro por minuto e falou baixinho com o caixa, que nem pra ele olhou. carregava uma nota fiscal e uma embalagem de chocolate em pó fechada. passaram as minhas coisas na frente dele, os códigos de barra apitando e o senhor cabisbaixo esperando. quando terminaram com aquilo tudo o senhor finalmente se aproximou do menino do caixa e disse o que lhe acontecia
que ele ao chegar em casa conferindo a nota tinha percebido que aquele pacote de chocolate não tinha sido pago e que ele estava lá pra resolver isso. o gajo do caixa se enrijesceu todo daquela demonstração e muito duro sem nem olhar pra idade do homem nem nada passou o chocolate no apitador de barras e disse
-são 89 céntimos.
o senhor abriu o moedeiro com as mãos tremendo e moeda a moeda pagou. eu me retirei para casa enquanto a compra se finalizava. pensei? não. só me doí.
**
o que é que me doeu?
****.
tava meditando que de novo comprava o trident tropical mix já no caixa quando um senhor de uns 90 anos se aproximou vindo da rua de bengala, naquele ritmo de passo a passo, vestido de fato xadrex em marrom, velocidade de 1/4 de metro por minuto e falou baixinho com o caixa, que nem pra ele olhou. carregava uma nota fiscal e uma embalagem de chocolate em pó fechada. passaram as minhas coisas na frente dele, os códigos de barra apitando e o senhor cabisbaixo esperando. quando terminaram com aquilo tudo o senhor finalmente se aproximou do menino do caixa e disse o que lhe acontecia
que ele ao chegar em casa conferindo a nota tinha percebido que aquele pacote de chocolate não tinha sido pago e que ele estava lá pra resolver isso. o gajo do caixa se enrijesceu todo daquela demonstração e muito duro sem nem olhar pra idade do homem nem nada passou o chocolate no apitador de barras e disse
-são 89 céntimos.
o senhor abriu o moedeiro com as mãos tremendo e moeda a moeda pagou. eu me retirei para casa enquanto a compra se finalizava. pensei? não. só me doí.
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o que é que me doeu?
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Um comentário:
a vontade de viver?
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