29.4.09

o nome disso não é exatamente felicidade

se é alguma espécie de assombramento desnecessário ou é simplesmente o ritmo das coisas se acomodando em mim. até mesmo o trânsito de quilômetros de horas pode me provocar ternura.

às vezes penso: deve ser assim saber estar pra morrer.
mas, na verdade, só estou fazendo o que eu gostaria de fazer.

26.4.09

amor

a última vez que nos vimos eu - - - percebi que não sei escrever
tinha matado um alce e carreg - - - um poema que fale da tua
ando até a margem do lago - - - ausência quero dizer minha
deposito ao lado na relva - - - dor de
gravetos estalando fogo - - - .

25.4.09

amor acaso amor



se acaso me quiseres

23.4.09

mastodonte

psiu, o marcos tem o quase resenha então eu vou contar um quase-segredo: tô terminando um livro de poemas. eu sempre soube que isso ia me acontecer um dia, mas não sabia na verdade. é assim tudo que a gente quer: ?

porque sou generosa como um gigante mau
gostaria de contar pra vocês quais são as epígrafes.
a primeira, quase já datou nesse blogue. e é:


"Sei que os campos imaginam as suas
próprias rosas.
As pessoas imaginam seus próprios campos
de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar."
“II”, Poemacto.
Herberto Helder

& também

"Céu de estrelas sem destino
De beleza sem razão (...)
Fogo fogo de artifício
Quero ser sempre o menino"

“São João, Xangô menino”.
Caetano Veloso e Gilberto Gil


& mas tenho dúvidas quanto a esta segunda,
se será ela ou

"Minha paixão há de brilhar na noite
No céu de uma cidade do interior
Como um objeto não-identificado"

ou qualquer outra estrofe de não-identificado, do Caetano.
me parece que será essa segunda, tem haver, não tem?

e o que importa mesmo é ser uma música do Caetano.


- -
que você acha?
e ah, o livro se chama é cantos de estima

22.4.09

não sei se você vai acreditar
mas tem um sorriso aqui
que é seu



bem comportada não dou em nada

a noite que fomos ao observatório

o ônibus teve de subir a estrada de pedregulhos.
tinha capim ao lado era assim mais uma prosaica subida.
estudo do meio.
não vou me alongar nisso?,
indo ver as estrelas e quando chegamos era uma bola branca de concreto.
ou eu me lembro porque assim são os planetários.
por isso vou tingi-lo: era azul.
e na estrada tinha cheiro de sereno sobre o mato e borracha queimada dos ossos.
a vida é impertinente quando se tem 15 anos.
eu sempre senti os órgãos demais na barriga.
meu melhor amigo me disse uma coisa bonita sobre o fígado.
eu não escutava mas era como se ouvisse um rádio lento trazendo a notícia da paz.
a gente corre o pulmão expande pra inspirar o fígado pra se ajeitar é massageado.
talvez eu tenha tido vontade de massagear a bola branca do observatório.
o físico que nos atendeu contou sobre o clarão no céu visto nas férias
que iluminou nossos rostos de fogueira e fez um arco verde por cima dos meninos
era lixo espacial voltando pras atmosferas ardendo estrela-cadente não existe
deu-se por contente.
e quando olhamos ao ponto final só
-abre coração abre-
podia olhar por dez segund
(mesmo assim eu não vi nada)

18.4.09

montra

descobri que os homens acuavam mamutes pelos desfiladeiros porque era mais fácil derrubá-los do que acertá-los com mira em flecha fiquei imaginando uma flecha pra atravessar o couro de um mamute e quem sabe talvez o mar fosse menos impossível talvez alguma outra divina astúcia me acontecesse assim também e no supermercado exclamar que fertilidade entre abobrinhas poeta do finito e da matéria/ .../ cantor de um povo limpa-ladrilho beterraba às vezes a única coisa que eu consigo produzir é uma solidão radical

15.4.09

caderno de viagem



do alto a terra é tão extensa
que assim só conhecia o mar
se à noite fico bem quieta
meu ouvido é uma concha
em qual se ouve o rugido,

acordei aqui, os pés enfiados
a espera da tua chegada, fumo
até partir do corpo
em heterônimos te escrever
como o mar que avança
depois de muito retroceder
duas ondas juntando a água que veio de trás

[marvão, portugal, julho do 8]

7.4.09

amor

passo a tarde em poemas
às dúzias como fotos digitais
seqüencia de frames
de desenho animado
a gente vai estrelar junto
na tela da televisão
eu, Teddy Corpete, enrolando
você entre os ossos da bacia

amor

entro no teu quarto todo
enquanto dormes escuro
com a câmera de gravar
você tão quieto respira tão bem
e o meu maquinário tem a propriedade de filmar
mas só passa os sonhos do que amamos em cores
não sei, se insisto ou se parto,
queimando os lugares reticentes do mundo
aperto o botão e do início a gravação
na tela curta se reproduz de imediato
então tu?
sonhas a lua?
 

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