por exemplo: "dia difícil, cuidado com as palavras" e o sujeito cujo leitor apaixonado deve guardar a declaração pro dia mais adeqüado? é mercúrio, saturno, pôvo ê,
*
*
XII
Temendo deste agosto o fogo e o vento
Caminho junto às cercas, cuidadosa
Na tarde de queimadas, tarde cega.
Há um velho mourão enegrecido de queimadas antigas.
E ali reencontro o louco:
-Temendo os teus limites, Samsara esvaecida?
Por que não deixas o fogo onividente
Lamber o corpo e a escrita? E por que não arder
Casando o Onisciente à tua vida?
eu dei de presente pro B
esse da
Hilda Hilst, n'o "Via Espessa" dentro Do desejo
*
todo meu amor.
30.10.09
26.10.09
já não vivemos mais
já não vivemos mais na mesma cidade
de lá você não era
e eu tinha crescido em outra parte
*
sonho contigo
tem um bidê
fazemos amor
e me ensinas as coisas que a gente fazia questão de não ver
*
de todo modo cada vez mais apartada e convicta
do teu sexo
*
POEMA DE FINADOS
talvez a saída da cidade combine melhor com o teu drama
assim como Lisboa rima com o meu senso de me iludir
*
linda, sobretudo linda
*
POEMA DE FINADOS
e todo o medo do silêncio
da tua concha de amar e usar
óculos escuros pra mais chorar
-sempre um pouco impressionada com a minha cara limpa-
sobretudo por si mesma consumida
como as flores amarelas do teu planeta.
cemitério, ciúme, sitiado ardor.
*
POEMA DE FINADOS
que já tenho aprendido a conviver a ferocidade da tua delicadeza.
* * *
de lá você não era
e eu tinha crescido em outra parte
*
sonho contigo
tem um bidê
fazemos amor
e me ensinas as coisas que a gente fazia questão de não ver
*
de todo modo cada vez mais apartada e convicta
do teu sexo
*
POEMA DE FINADOS
talvez a saída da cidade combine melhor com o teu drama
assim como Lisboa rima com o meu senso de me iludir
*
linda, sobretudo linda
*
POEMA DE FINADOS
e todo o medo do silêncio
da tua concha de amar e usar
óculos escuros pra mais chorar
-sempre um pouco impressionada com a minha cara limpa-
sobretudo por si mesma consumida
como as flores amarelas do teu planeta.
cemitério, ciúme, sitiado ardor.
*
POEMA DE FINADOS
que já tenho aprendido a conviver a ferocidade da tua delicadeza.
* * *
25.10.09
30 |
Já a luz se apagou do chão do mundo, deixei de ser mortal a noite inteira; ofensa grave a minha, que tentei misturar-me aos duendes na floresta. De máscara perfeita, e corpo ausente, a todos enganei, e ninguém nunca saberia que ainda permaneço deste lado do tempo onde sou gente. Não fora o gesto humano de querer-te como quem, tendo sede, vê na água o reflexo da mão que a oferece, seria folha de árvore ou sério gnomo absorto no silêncio de uma rima onde a morte cessasse para sempre. António Franco Alexandre in: Duende |
23.10.09
I
quando se fez um som: branco, parecia que alguém o calculava. entre precisão e desdém, um sopro concentrado no ouvido de alguém, a dizeres: quero-te, meu bem. e uma dobra de onda, vaga, esse desejo, meu cão, ao pé de presente, agora lambe suas mãos entre os dedos, salina viagem.
para atravessar o silêncio era preciso estar nele. ver as roupas que de molhadas se encheram de areia grudada e pensar: nada dizem essas minhas roupas longe da cidade? habitei dia a dia dentro delas, habitei dentro delas, se não me eram incógnitas, era eu a dúvida?
mas se eu sabia que te desejo assim como a uma casa, um prato de comida, um gato, o Museu del Prado, e um poema, não era isso já saber bastante, destino? eu que podia me satisfazer com um espelho e um destino de ninguém agora já não posso. escuta, fecha os olhos que eu estou aí. construo, reconstruo, adivinha se gosta de mim? mas desde que te conheço todo entulho, resto, nunca vai dar no mar.
espécie de salvação da espécie: um projeto: salvar o oceano.
quando se fez um som: branco, parecia que alguém o calculava. entre precisão e desdém, um sopro concentrado no ouvido de alguém, a dizeres: quero-te, meu bem. e uma dobra de onda, vaga, esse desejo, meu cão, ao pé de presente, agora lambe suas mãos entre os dedos, salina viagem.
para atravessar o silêncio era preciso estar nele. ver as roupas que de molhadas se encheram de areia grudada e pensar: nada dizem essas minhas roupas longe da cidade? habitei dia a dia dentro delas, habitei dentro delas, se não me eram incógnitas, era eu a dúvida?
mas se eu sabia que te desejo assim como a uma casa, um prato de comida, um gato, o Museu del Prado, e um poema, não era isso já saber bastante, destino? eu que podia me satisfazer com um espelho e um destino de ninguém agora já não posso. escuta, fecha os olhos que eu estou aí. construo, reconstruo, adivinha se gosta de mim? mas desde que te conheço todo entulho, resto, nunca vai dar no mar.
espécie de salvação da espécie: um projeto: salvar o oceano.
22.10.09
eu queria uma espécie alienígena que tivesse tomado o meu itunes e colocado a tag "de amor para essa hora", e o play nessa especificidade desse a mim (e a todos, aqueles, ligados_ ) a sensação - aquela - que é um sorriso junto, de coragem
embora coragem seja uma palavra forte demais.
forte?
nobre?
na última vez que nos vimos eu disse que toda coragem é cheia de estupidez. um valente é um alguém que deu tão não certo, que acertou.
meu corpo tá malvado esses últimos dias comigo.
tô num mal humor cheio de boas intenções.
embora coragem seja uma palavra forte demais.
forte?
nobre?
na última vez que nos vimos eu disse que toda coragem é cheia de estupidez. um valente é um alguém que deu tão não certo, que acertou.
meu corpo tá malvado esses últimos dias comigo.
tô num mal humor cheio de boas intenções.
20.10.09
valentine, que tornou a ser sweet
amanheceu chovendo sobre a minha máquina de escrever
just like playing with
sex
sorri
do inverno tão esperado
agora já não tenho o veneno mais
levantei fechei a janela de vidro
a valentine molhada ali resiste tanta ternura quanto eu
e abri as abas de madeira que tapavam a luz pra luz entrar
quem sabe o dia seca na valentine
o que em mim cinza desses se viu em aberto
saltou na cama e voltou a dormir de de amor.
just like playing with
sex
sorri
do inverno tão esperado
agora já não tenho o veneno mais
levantei fechei a janela de vidro
a valentine molhada ali resiste tanta ternura quanto eu
e abri as abas de madeira que tapavam a luz pra luz entrar
quem sabe o dia seca na valentine
o que em mim cinza desses se viu em aberto
saltou na cama e voltou a dormir de de amor.
as aventuras de zuliem e gentsom
primeira composição em papel amarelo
composta conjuntamente por Zuliem e Gentsom
trata-se, em fato, de um forró:
Encruzilhada
coração engrandecido
a dádiva do vermelho agradecido
em um xale
que bate grande
faz mágica, transversa
cristalino
tem que ser masculino
eu liguei pro cajuíno
queria é bombar um
palestino no destino
transitório e teresino.
o ritmo é como essa linda música que eu conheci ontem no cinema São Jorge
composta conjuntamente por Zuliem e Gentsom
trata-se, em fato, de um forró:
Encruzilhada
coração engrandecido
a dádiva do vermelho agradecido
em um xale
que bate grande
faz mágica, transversa
cristalino
tem que ser masculino
eu liguei pro cajuíno
queria é bombar um
palestino no destino
transitório e teresino.
o ritmo é como essa linda música que eu conheci ontem no cinema São Jorge
antes desse filme passou um documentário com a bethania em '66 e entrando atrasados no cinema eu fiquei espantada com a mulherança toda novinha na tela enorme em preto e branco do são jorge e guardei água dentro da minha mochila e babei ali na maria bethania e percebi daí minhas perna tudo molhada era a garrafa que eu tinha colocado sem tampa guardada/ não eram as saudades do meu bem.
19.10.09
caixas
foi no ano que eu mudei de casa. era cavalar. tudo múltiplo e inacabado. passei 3 meses pulando nas casas da família que podia me receber. agora tenho medo de te telefonar. deixei minhas coisas na menorzinha, no mato, que quando eu falava com algum europeu dizia "mato" se era latino-americano "campo", só pra averiguar a diferença. acontece que eu sou baiana.
quando abri a caixa, de primeira vez, falava-se que seria duro e um canto sem canto. escolhia o que levar, o que ficar pra trás. a segunda caixa o inverno tinha meus sapatos mofados de verde. eu entendi como um recado, nesse meu ano de dois outonos-e-invernos que a primavera é a minha grande expectativa em 2010. o inverno não é brincadeira não. a terra toda se vai mesmo pra dentro dela mesma.
hoje aqui chegou o outono, parece. andei por aí e tinha cor de europa no eutono. as folhas caídas no chão secas, o vento, o branco ficando cinza. é preciso encontrar o amor e aquecê-lo. ficar bem magra pra não adoecer. ter gordura o suficiente pra não enlouquecer.
e as minhas coisas todas naquelas caixas de papelão ficaram pra lá de mim. como pode um corpo, de repente, ter que não precisar de nada?
aqui em Lisboa sinto falta dos meus amigos de anos, dos meus gatos e dos meus livros. o curioso é que estão vindo do Brasil minha obra completa do Herberto Helder e também a do Al berto, ao passo que me encontro em não lê-los no momento. pensei em pedir emprestado um ou dois, mas seria o disco novo tocando parado. os livros que já são meus ainda não são meus. e o correio me faz esperar. todo dia por volta do meio-dia uns miúdos tocam a campainha. moro no 3o andar sem vista pra rua e o interfone não funciona. é claro que não desço. e penso: meus livros ah meus livros?... abro a caixa da correspondência e já me chegaram 3 cartas de aventura ultra-mar, que mais eu posso querer? os livros, ah os livros.
*
agora voltei a olhar as coisas e as pessoas e a pensar em histórias, compor narrativas.
comecei a contar pra mim mesma ontem quando voltei pra casa a composição de um poema até começar a comer / a satisfação do estômago sossegou meu vocabulário farto.
e
acho que o "cantos de estima" acabou. embora em mim nunca.
quando abri a caixa, de primeira vez, falava-se que seria duro e um canto sem canto. escolhia o que levar, o que ficar pra trás. a segunda caixa o inverno tinha meus sapatos mofados de verde. eu entendi como um recado, nesse meu ano de dois outonos-e-invernos que a primavera é a minha grande expectativa em 2010. o inverno não é brincadeira não. a terra toda se vai mesmo pra dentro dela mesma.
hoje aqui chegou o outono, parece. andei por aí e tinha cor de europa no eutono. as folhas caídas no chão secas, o vento, o branco ficando cinza. é preciso encontrar o amor e aquecê-lo. ficar bem magra pra não adoecer. ter gordura o suficiente pra não enlouquecer.
e as minhas coisas todas naquelas caixas de papelão ficaram pra lá de mim. como pode um corpo, de repente, ter que não precisar de nada?
aqui em Lisboa sinto falta dos meus amigos de anos, dos meus gatos e dos meus livros. o curioso é que estão vindo do Brasil minha obra completa do Herberto Helder e também a do Al berto, ao passo que me encontro em não lê-los no momento. pensei em pedir emprestado um ou dois, mas seria o disco novo tocando parado. os livros que já são meus ainda não são meus. e o correio me faz esperar. todo dia por volta do meio-dia uns miúdos tocam a campainha. moro no 3o andar sem vista pra rua e o interfone não funciona. é claro que não desço. e penso: meus livros ah meus livros?... abro a caixa da correspondência e já me chegaram 3 cartas de aventura ultra-mar, que mais eu posso querer? os livros, ah os livros.
*
agora voltei a olhar as coisas e as pessoas e a pensar em histórias, compor narrativas.
comecei a contar pra mim mesma ontem quando voltei pra casa a composição de um poema até começar a comer / a satisfação do estômago sossegou meu vocabulário farto.
e
acho que o "cantos de estima" acabou. embora em mim nunca.
17.10.09
dessa vez ainda não morri
dias atrás a insipidez lírica do meu olhar sobre as coisas fazia me sentir num conto da virginia woolf, pelas superfícies tomadas, as casas, os campos de trigo (se trigo houvesse), os jarros sobre a mesa na parede de veludo, se parede houvesse.
virginia não me visita essa noite.
levanto-me de pronto, é escuro. dei um grito porque voava sobre mim um lençol. me acontece de meses em meses. o remorso dos vizinhos não me impede de dormir.
encanto-me pelos poetas que são oratórios. encanto-me pelos poetas que são proféticos. não gosto dos poetas que falam como deus, ou por ele. gosto dos poetas na terra enterrados, que falam na altura do trigo, se trigo houvesse.
o que foi gerado e entre o que ainda está pra se gerar teve um branco feito lençol. multi ação sem cores. televisão que nutre pra aumentar o realce. fiquei calada. calada. Inês, tão linda, me olhava no carro e dizia "não vês?". eu queria sorrir para Inês, mas era o corpo que me impedia. o corpo como uma fronteira entre mim e mim mesma. e a gente subia por Alfama no carro. e eu em mim mesma fundia.
eu não existia. não sei se isso já lhe aconteceu. mas desde que cheguei, além duma fundura invisível que não me alcança, eu deixei de existir. ontem só que percebi que estou precisando contar os passos. um pra lá de adiante, pra cá e depois, sim. não, não tropecei, nem caí. foi a lua.
depois eu fui a praia, com o B. e descobri o mundo inteiro de tons azuis. o mar, o calção do menino muito loiro que corria de óculos de natação, a coleira do pastor alemão. se bem que de perto era verde o mar com Tejo. sobre o pastor dormia um rapaz. e um surfista da bunda linda se alongava ao lado duma geladeira. eles ali jogavam gamão. o B lia Llansol e eu Pessoa. o B foi pular na água gelada e eu entrei pra dentro de um telefonema, e para animá-lo, eu descobri como descrever o mundo por fora.
quando o B voltou pensamos em disputar com umas alemãs umas mangas e também o Nívea Sun. mas elas usavam óculos escuros, nós não. nós estávamos olhando pro sol. eu senti frio antes. voltamos pra Lisboa e tudo que eu vivo tinha sossegado.
*
são uns dentes tortinhos, sorrir seu, meu desejo.
virginia não me visita essa noite.
levanto-me de pronto, é escuro. dei um grito porque voava sobre mim um lençol. me acontece de meses em meses. o remorso dos vizinhos não me impede de dormir.
encanto-me pelos poetas que são oratórios. encanto-me pelos poetas que são proféticos. não gosto dos poetas que falam como deus, ou por ele. gosto dos poetas na terra enterrados, que falam na altura do trigo, se trigo houvesse.
o que foi gerado e entre o que ainda está pra se gerar teve um branco feito lençol. multi ação sem cores. televisão que nutre pra aumentar o realce. fiquei calada. calada. Inês, tão linda, me olhava no carro e dizia "não vês?". eu queria sorrir para Inês, mas era o corpo que me impedia. o corpo como uma fronteira entre mim e mim mesma. e a gente subia por Alfama no carro. e eu em mim mesma fundia.
eu não existia. não sei se isso já lhe aconteceu. mas desde que cheguei, além duma fundura invisível que não me alcança, eu deixei de existir. ontem só que percebi que estou precisando contar os passos. um pra lá de adiante, pra cá e depois, sim. não, não tropecei, nem caí. foi a lua.
depois eu fui a praia, com o B. e descobri o mundo inteiro de tons azuis. o mar, o calção do menino muito loiro que corria de óculos de natação, a coleira do pastor alemão. se bem que de perto era verde o mar com Tejo. sobre o pastor dormia um rapaz. e um surfista da bunda linda se alongava ao lado duma geladeira. eles ali jogavam gamão. o B lia Llansol e eu Pessoa. o B foi pular na água gelada e eu entrei pra dentro de um telefonema, e para animá-lo, eu descobri como descrever o mundo por fora.
quando o B voltou pensamos em disputar com umas alemãs umas mangas e também o Nívea Sun. mas elas usavam óculos escuros, nós não. nós estávamos olhando pro sol. eu senti frio antes. voltamos pra Lisboa e tudo que eu vivo tinha sossegado.
*
são uns dentes tortinhos, sorrir seu, meu desejo.
As profecias de Abdul Varetti, Escritor Falhado
*
A "vida" e a "morte", indistintas finalmente, serão sentidas na sua raiz comum, como formas de ilusão e alegria excepcional.
*
As obras de arte terão uma existência exclusivamente lúdica. A experiência dos vários mundos, suprirá com enigmas e presenças.
*
Um anarquismo integral, de produção natural, será a forma que se antevê, irá ser escolhida pela humanidade emancipada
*
A linguagem afastar-se-á do consenso, e exprimirá o desejo e a imaginação.
*
Sendo o "exterior" à imagem do "interior", a vida será uma obra de arte. As obras de arte do passado serão tidas por curiosidade arcaica. Algumas serão conhecidas e estudadas.
*
O amor e as outras actividades de relação serão públicas e tribais. Eles serão reis e elas rainhas.
*
Uma guerra planetária deprimirá a humanidade actual. Depois o homem, envergonhado, conhecerá o horror dos ídolos.
*
O artista será confrontado com o "político" e com o "sábio". O artista será louvado, os outros serão excluídos.
*
As religiões serão desconsideradas. A experiência mística será reconhecida e um facto comunicável.
*
Os deuses, adormecidos, vão recuperar a atenção do homem livre. A curiosidade e a crença florirão.
*
A experiência interior será transmitida, "ensinada", musicalmente.
*
Haverá muitos vagabundos solitários de ambos os sexos. Mover-se-ão entre as tribus, como agentes de experiências.
*
A mais bela forma de ser será a preferida, depois que os homem reconhecerem seus tiranos, no interior de si mesmo.
*
O dia e a noite deixarão de opôr-se. A sua raiz comum na imaginação será reconhecida.
*
O sono e a morte serão mais um vez equiparados. O homem aprenderá a morrer.
*
Os antepassados animais serão venerados, como uma das faces da realidade.
*
Não se falará sem vergonha do velho tempo. Discutir-se-á de preferência o amanhã cotidiano.
*
A amizade será livre. O amor não.
*
O desejo será declarado. A linguagem e a ação enriquecer-se-ão permanentemente.
*
Sendo a vida uma arte, a linguagem será universal. (Cfr. Rimbaud), Incluindo tudo.
*
As crianças chamar-se-ão crianças, e os adultos crianças evoluídas.
*
A casa, lugar de repouso, será individual e pessoal. As actividades de relação serão consagradas como tais, públicas e tribais.
Álvaro Lapa
As profecias de Abdul Varetti, Escritor Falhado, 1972.
22 elementos, lona bordada montada em estrutura de ferro.
A "vida" e a "morte", indistintas finalmente, serão sentidas na sua raiz comum, como formas de ilusão e alegria excepcional.
*
As obras de arte terão uma existência exclusivamente lúdica. A experiência dos vários mundos, suprirá com enigmas e presenças.
*
Um anarquismo integral, de produção natural, será a forma que se antevê, irá ser escolhida pela humanidade emancipada
*
A linguagem afastar-se-á do consenso, e exprimirá o desejo e a imaginação.
*
Sendo o "exterior" à imagem do "interior", a vida será uma obra de arte. As obras de arte do passado serão tidas por curiosidade arcaica. Algumas serão conhecidas e estudadas.
*
O amor e as outras actividades de relação serão públicas e tribais. Eles serão reis e elas rainhas.
*
Uma guerra planetária deprimirá a humanidade actual. Depois o homem, envergonhado, conhecerá o horror dos ídolos.
*
O artista será confrontado com o "político" e com o "sábio". O artista será louvado, os outros serão excluídos.
*
As religiões serão desconsideradas. A experiência mística será reconhecida e um facto comunicável.
*
Os deuses, adormecidos, vão recuperar a atenção do homem livre. A curiosidade e a crença florirão.
*
A experiência interior será transmitida, "ensinada", musicalmente.
*
Haverá muitos vagabundos solitários de ambos os sexos. Mover-se-ão entre as tribus, como agentes de experiências.
*
A mais bela forma de ser será a preferida, depois que os homem reconhecerem seus tiranos, no interior de si mesmo.
*
O dia e a noite deixarão de opôr-se. A sua raiz comum na imaginação será reconhecida.
*
O sono e a morte serão mais um vez equiparados. O homem aprenderá a morrer.
*
Os antepassados animais serão venerados, como uma das faces da realidade.
*
Não se falará sem vergonha do velho tempo. Discutir-se-á de preferência o amanhã cotidiano.
*
A amizade será livre. O amor não.
*
O desejo será declarado. A linguagem e a ação enriquecer-se-ão permanentemente.
*
Sendo a vida uma arte, a linguagem será universal. (Cfr. Rimbaud), Incluindo tudo.
*
As crianças chamar-se-ão crianças, e os adultos crianças evoluídas.
*
A casa, lugar de repouso, será individual e pessoal. As actividades de relação serão consagradas como tais, públicas e tribais.
Álvaro Lapa
As profecias de Abdul Varetti, Escritor Falhado, 1972.
22 elementos, lona bordada montada em estrutura de ferro.
16.10.09
bom dia brasil
eu: papapapapapapai
João: Oi,Ju,ça va?
eu: êêêêêê
papaiiiiiii
tou bem preguiçooooosa
João:
eu: eu ia pra praia mas acho que vou estudar aqui mesmo
tem uma louça imensa pra lavar
João: Eu também, acordei pra comprar tinta, veja só
eu: papai minha aula de ontem foi INCRÍVEL
tinta de parede ou de impressora?
João: Sua mãe falou. Como foi?
eu: foi ótima, é uma aula-seminário
João: Parede.Melhor:porta
eu: todo mundo senta na mesma mesa, meio que em círculo se não fosse retangular
João: Que nem o rei Artur?
eu: é
a gente é a távola
João: E qual é o Graal que procuram?
eu: eu sou o Rei Artur papai
João: Isso eu já sabia.
eu: ah que bom não sou só eu que guardo o meu segredo
papai a aula foi sobre nietzsche
eu perdi a primeira, infelizmente, que foi sobre o romantismo alemão
João: Nietzsche? Vontade de poder e afirmação?
eu: não foi sobre
foi uma discussão a respeito dum texto de juventude dele
o "acerca da verdade e da mentira no sentido extramoral"
João: Foi nietzscheana então? Qual texto de gioventù?
eu: foi supeeeer nietzscheana
a professora é super aberta e firme ao mesmo tempo
inteligente pra caramba, uma erudição felomenal
João: Was übermoralsischesSinn ist?
eu: parle pas votre langue monsieur friedrich
curiosoooo é que ontem era aniversário do nietzsche
João: Erudição felomenal ou femolenal?
eu: papai ele enlouqueceu né?
o donato que falava Ferpeitamente e Felomenal
João: Sim, virou Dionísio-Cristo
eu: papai ele enlouqueceu ele encontrou tudo-nada e pirou legal
dionísio-cristo como assim?
João: A síntese talvez do espírito orgíaco da música + a moral
eu: entendi
mas ele pensava ou dizia que era Jesuiss Baco?
João: Não entenda tão rápido que não sei se é isso talvez nãoseja nada disso
Ele pensava-dizia, um pensar-dizer
eu: é eu tou acostumada não entendo tão rápido a vida é assim não é papai de repente não é mais
que é um pensar-dizer simultaneo?
é bonito isso né
agir-já-é
João: Sim, é preciso colher o instante como ele vem
Baco-Jesus é a realização afirmativa do trágico
eu: ai papai explica mais
João: O Cristianismo é uma moral de escravos que nega a vida propondo que a verdadeira não tá aqui,mas além. Nietzsche afirma a vida em toda a sua desordem, afirmativamente, dizendo que é preciso ter o amor fati, o amor do fado ou da sina ou do destino ou da Fortuna ou das coisas como são
Enviado às 13:43 de sexta-feira
João: O superhomem é o tipo afirmativo. Nietzsche retoma os gregos pra isso, a grande tragédia ática, Sófocles, Ésquilo, Eurípides, contra Platão. Vê em Platão e seu mundo de essências o fundador de religião na base do cristianismo
eu: papai eu sou nietzscheana também, posso?
quero ser a she-ha
João está digitando…
15.10.09
o menino na sala abriu a boca pra falar e era dúzia
de língua portuguesa de Portugal ouvir é pra mim
(às vezes)
como ter um rubi quente dentro do meu tórax
das minhas costelas uns olhos negros
(de netuno)
pares vivos desse desconhecido, amor.
* *
e quando um menino leu um conto do Sá Carneiro alto em voz alta a língua portuguesa dele era como se fosse um rubi dentro do meu tórax. tem algo de netuno nessa língua, dois olhos negros, que me enchem de nuvens e sonhos, o mar.
* *
de língua portuguesa de Portugal ouvir é pra mim
(às vezes)
como ter um rubi quente dentro do meu tórax
das minhas costelas uns olhos negros
(de netuno)
pares vivos desse desconhecido, amor.
* *
e quando um menino leu um conto do Sá Carneiro alto em voz alta a língua portuguesa dele era como se fosse um rubi dentro do meu tórax. tem algo de netuno nessa língua, dois olhos negros, que me enchem de nuvens e sonhos, o mar.
* *
12.10.09
e se não estou encaixando bem não sei se é chegada, falta, meus órgãos
mas
ando por aqui não vejo
tento sair de mim
não tenho o que dizer
quero te escutar, prometo
mudei tanto tanto e no entanto
é tudo tão bonito que me cega
não tenho olhos pra isso
já não tenho mais medo de ter medo
tô lendo o diário do Gauguin
a Penelope tá aqui comigo
piso com o piso dela
tenho um amigo Bernardo
a vida toda é um achado
Lisboa é tão bonita à toa
e a Inês trabalha no Chiado
agora não tem jeito
espelho, livro, vestido
pede traça
explode coração
tamô vivendo
e tudo que faça
em Euro é tão caro
gente minha
tamô na Praça
tô feliz? nem sei,
mas faço graça.
mas
ando por aqui não vejo
tento sair de mim
não tenho o que dizer
quero te escutar, prometo
mudei tanto tanto e no entanto
é tudo tão bonito que me cega
não tenho olhos pra isso
já não tenho mais medo de ter medo
tô lendo o diário do Gauguin
a Penelope tá aqui comigo
piso com o piso dela
tenho um amigo Bernardo
a vida toda é um achado
Lisboa é tão bonita à toa
e a Inês trabalha no Chiado
agora não tem jeito
espelho, livro, vestido
pede traça
explode coração
tamô vivendo
e tudo que faça
em Euro é tão caro
gente minha
tamô na Praça
tô feliz? nem sei,
mas faço graça.
6.10.09
amor
quando ele passa eu danço
a gente é já faz algum tempo um duelo-dueto
e tá tudo saltando atlântico
eu em Lisboa e Marcos em Jundiaí
na grande província da nossa língua
a grande companhia papel visão e conversa
nessa nova casa que convido a passearem, passarem, estarem
(e me ajudarem a conjugarem novas formas verbais):
campos, carvalhos, capins
4.10.09
o amor agora desce a rua
como uma nave alienígena
que aterrisa e perde o prumo
a areia, o descampado,
campo raso,
afago o beijo do meu bem
no ar.
* *
"meu amor
do que eu sei, antes do século dezoito o sujeito que dava o cu era que nem um crime: ele no máximo seria um reincidente num ato, jamais uma personificação do ato. se não ia pra fugáira e jesusinho lhe tomava o curaçaum era eu-te-amo-meu-brasil. mas a gente vive num tempo médico em que o teu corpo diz quem você é, vitória do lombroso. o nazismo venceu tanto que ninguém percebe que ele venceu.
o que a galera partidária da epistemologia queer diz, bem à la united states, é que a gente não é essência e nem corpo a gente é: que o nosso corpo é discurso e, como tal, ele pode ser dito redito desdito. porque a liberdade individual e de escolha e blah né. feminists don't have a sense of humor
http://www.youtube.com/watch?v=ORfG4rpZv6Y
mas essa gente from my point of view é PARANÓICA e olha, meu amor, a liberdade que um pesadelo de palavras me dá não tá no meu quadril não, viu. o mato é muito maior."
* *
"um templo de mãos disponíveis para o amor"
* *
mais uma vez um poema
deixa acontecer
talvez a gente saiba um ao outro
o que se quer / talvez não
e me pergunto se as gaivotas
que anoitecem o céu
contam assim todas as estações?
tanto trazem o calor
como o terror a noite
que vem antes cinza
e depois se despede em dia
* *
.
como uma nave alienígena
que aterrisa e perde o prumo
a areia, o descampado,
campo raso,
afago o beijo do meu bem
no ar.
* *
"meu amor
do que eu sei, antes do século dezoito o sujeito que dava o cu era que nem um crime: ele no máximo seria um reincidente num ato, jamais uma personificação do ato. se não ia pra fugáira e jesusinho lhe tomava o curaçaum era eu-te-amo-meu-brasil. mas a gente vive num tempo médico em que o teu corpo diz quem você é, vitória do lombroso. o nazismo venceu tanto que ninguém percebe que ele venceu.
o que a galera partidária da epistemologia queer diz, bem à la united states, é que a gente não é essência e nem corpo a gente é: que o nosso corpo é discurso e, como tal, ele pode ser dito redito desdito. porque a liberdade individual e de escolha e blah né. feminists don't have a sense of humor
http://www.youtube.com/watch?
mas essa gente from my point of view é PARANÓICA e olha, meu amor, a liberdade que um pesadelo de palavras me dá não tá no meu quadril não, viu. o mato é muito maior."
* *
"um templo de mãos disponíveis para o amor"
* *
mais uma vez um poema
deixa acontecer
talvez a gente saiba um ao outro
o que se quer / talvez não
e me pergunto se as gaivotas
que anoitecem o céu
contam assim todas as estações?
tanto trazem o calor
como o terror a noite
que vem antes cinza
e depois se despede em dia
* *
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3.10.09
tudo o que posso naquele que me fortalece
cinco vezes mais intensa, a mulher vulcão, incendiará a cegueira com ela comporá poemas do lançar-se ao desconhecido (coração) ele tem a voz que toma a minha voz a voz
falei com a Inês e agradeço a jisuis por dar-me sempre onde quer que eu esteja, no meio de toda a malta, alguém com bom coração (tão claro) por perto
- -
resolução de fim de ano pra todo mundo: viver mais, prever menos.
e que o medo engula quem o medo tem que engolir, que, ah, não é a mim.
falei com a Inês e agradeço a jisuis por dar-me sempre onde quer que eu esteja, no meio de toda a malta, alguém com bom coração (tão claro) por perto
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resolução de fim de ano pra todo mundo: viver mais, prever menos.
e que o medo engula quem o medo tem que engolir, que, ah, não é a mim.
2.10.09
"O amor é individual ou, mais exactamente, interpessoal: amamos unicamente uma pessoa e pedimos a essa pessoa que nos ame com o mesmo afecto exclusivo. (...) O desejo de exclusividade pode ser um mero anseio de posse. Esta paixão foi analisada com tão grande subtileza por Marcel Proust. O verdadeiro amor consiste precisamente na transformação do apetite de posse em entrega. Por isto pede reciprocidade e assim altera radicalmente a velha relação entre domínio e servidão. O amor único é o fundamento dos outros componentes: todos repousam nele; além disto, ele é o eixo e todos giram em volta dele. A exigência de exclusividade é um grande mistério: porque amamos esta pessoa e não uma outra?"
A chama dupla: amor e erotismo. Octavio Paz, em tradução de José Bento.
A chama dupla: amor e erotismo. Octavio Paz, em tradução de José Bento.
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