25.6.06

solto avós nas estradas


eu não quero mais a morte
tenho muito o que viver.
já não sonho, hoje faço
com meu braço meu viver.
mesmo a distância
eu passei metade dos últimos anos culpando o erro e toda a minha violência. mas é sempre que você me vê é que não sabe como não me amar.
quando te vi com as mãos daquele jeito, lembrei que meu hábito de manter um/quarto das mãos nos bolsos era um gesto todo tomado do seu. tudo em mim é apropriação, se vou do choro ao riso e não me desfaço. enfiei a mão num estojo em busca de cascolar, mas era o bolso dos edifícios abandonados. há um andar, todas as garagens? ou só as fundações? há! os meus dígitos tão estilhaçados! se deles ainda não se saiu o pó é só porque não tive descansar.

23.6.06

referencialidades

se a questão já esteve no embate do "eu" e do "outro que também sou eu mas difere", o problema agora está naquele terceiro, o que nos olha em diálogo e subentende.
uma vez eu estava andando na praia e li rasurado na areia: "o observador é só um ponto de vista no espaço". simples?
sinal de liberdade mesmo seria poder querer optar pela prisão.

(a minha jaula, honey, com vista de brisa fresca para o mar.)

16.6.06

o tempo descontado

"A grande peça que a biologia prega nas pessoas é que a gente já é íntima antes mesmo de saber alguma coisa a respeito da outra pessoa. No primeiro momento, já entendemos tudo. Um é atraído pela superfície do outro no início, mas também intui a dimensão mais profunda. E a atração não precisa ser equivalente: ela se sente atraída por uma coisa, você por outra. É a superfície, é curiosidade, mas então, pum! a dimensão profunda." Philip Roth

Eu sei desde aquela tarde, Manhattan, você me disse que gostava, não foi? No eco do seu esboço mora um juiz encalacrado, o fado dos seus antepassados está un-der-the-bridge. Não torci o seu desejo em fio-de-faca, o senhor me respeite, como as ramas da unha-de-gato
que suspendem pelas colunas as paredes verdes da sala, como as vértebras do medo na respiração
suspensa respiração que se estende, dá pra sentir as fibras do peito atrofiadas ou engatilhadas?

É assim desde
a sua ausência só me causa espaço
o das imagens que não gastei
dos retratos que eu não tive da onde tirar a ânsia do instante
e até do trair ao futuro
fiquei sem. Agora, eu vou me casar. Com um animal que me atravessa os braços, alcança a barriga e deita, sem humildade, ronrona.
De uma frase limpa não se esgota: se no seu correio eu chego curiosa:
como é que você sente ciúme?

15.6.06

tabacaria revisited

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.

just let me say who am I

12.6.06

Nasce Talvez

É a névoa que nos apaga

Nasce talvez um rio aqui em cima

Escuto o canto das sereias
do lago onde era a cidade
::
Agonia

Morrer como as calhandras sedentas
na miragem

Ou como a codorniz
cruzado o mar
sobre as primeiras moitas
porque já não tem ânimo
de voar

Mas não viver se queixando
como um pintassilgo cego


(poemas de ungaretti, em tradução de g.h. cavalcanti)

11.6.06

9.6.06

da justiça e da concórdia

embora me faltem aspectos mais convincentes, posso afirmar que a década de 60 existiu no brasil.
em 1967, em meio a toda e-fe-rrr-ve-cênnnn-cia dos festivais de canções, havia um programa televisivo chamado "um instante, maestro!". acho que em todos era assim, o público participava no auditório, que era 'um poleiro para o público tocado como gado', segundo o tinhorão. mas o que eu noto é que o comando do microfone era feito por homens de gravatas borboletas (ainda é?) e a nara leão dividiu os ânimos de uma platéia entre indignação e frisson por aparecer com uma saia 5 dedos acima do joelho. pelo que pesquisei, já havia o trajar-se de bolinhas, mas na época se dizia que na casa do bolinha, confesso, não gostei do jeito da glorinha, toda assanhada, nunca vi igual, trocava mil beijocas com o raposo no quintal. se 'bolinha's, como vocês notaram, eram as desse tipo, as gravatas, por sua vez, eram da estampa lisa.
já as mentalidades existiam de todos os tipos e dores. dizem que até hoje é assim, ainda mais nesse momento democrático, aves de rapina e momentos democráticos democrático momento de rapina democráticos contrariam-se de tempos em tempos, enfim, enfim,
o apresentador de "um instante, maestro!", que não me recordo o nome, mas era maestro, cismou inflamadamente contra os versos da canção do jovem (e cacheado) caetano veloso na irresistível alegria, alegria já que as primeiras letras das palavras em:
"(sem) Lenço Sem Documento" eram as siglas de L.S.D.
ao que caetano respondeu que eram mesmo uma citação das iniciais de:
Louvado Seja Deus.

contada a anedota, agora me importo com a vontade de posicionamento dos critérios. era o universo tchubiruubi, das vaias enérgicas, acaloradas declarações de amor. mas nesse ano, bem, já nós

nós somos não há morte não há prazer nós, abstêmios da direção,
nós somos abstêmios da direção.

8.6.06

i'll be watching you



ali onde eu chorei
qualquer um chorava
dar a volta por cima que eu dei
quero ver quem dava
paulo vanzolini, por maria bethânia em 'drama'
vamos ser claros, mas sem desespero, todos os meus amores duraram menos que um entre copas-do-mundo, mas eu não diria que a vacina é comprar um televisor.
quando eu entrei pela porta: é preciso ver claro, como o som que causa o impacto é um vai e volta que reverebera do meu instante ao seu. de repente estamos num jardim e neblina. unha-de-gato subindo pelas construções, erguendo muros. não sei se é noite ou se me chamam de casa. olho seu cabelo, tenho vontade de pedir para que você me abrace por cima dos ombros, mas me afasto e sento. será o úmido reentrado do cimento que me desaponta, o coração? na dúvida, você aperta os lábios um contra o outro, como de costume faz, se a sua água é sem gás, é da tampa ao meu destroçado que salta um leão e caminha sobre o roxo pisoteado do noticiário que eu carregava nas mãos. nessa contrição da falta de ato, a faltaqueama vem desde a traquéia. e a aliteração é pra comemorar o retorno de outro medalhão.
-mas esta cena está um tanto quanto alvareszevediana, não? daqui a pouco você me acerta o coração!
-se te satisfaz, sim, meu bem. mas para mim, que não sei o que penso o que o luar através dos altos ramos é, além de ser o luar através dos altos ramos, é não ser mais que o luar através dos altos ramos.
deal? agora note-se a reentrância por entre os ramos, o raio prateado da lua batendo, jateado, no dente do sorriso que eu esboço, não tão falso como que impregnado de você, que sorri também. nem nós sabemos como dói. falando sério, é bem melhor parar com essas coisas, que eu só sei sorrir como quem nada quer, é minh'elegância de berço. você carrega uma londres nos bolsos, da onte tira o relógio que olha novamente, estou atrasada, eu sei, eu nunca não cheguei, mordendo só o meu próprio pulso. me afasto pra olhar, oblíqua e dissimulada, no meio do muro uma janela, por onde ela cruza lá embaixo, vestida de noticiário. dou-lhe a mão como quem aperta o trinco, oh sim, eu estou tão cansada, descendo por todas as ruas, apavorada com o largo da barata às 23h, que ainda é fuligem. para a construção do metrô destroem a antiga rua, o quanto eu destruo a velha ordem e chego em casa, intacta?
alguns com os quais isso nunca acontece dormem ao relento vez ou outra. outros em conjuntto uníssono. eu hoje gostaria que todos ficassem um pouco mais no escuro.

3.6.06

2.6.06

o mundo dissonante que nós dois tentamos inventar

If you're listening to this song
You may think the chords are going wrong
But they're not
"Há cronistas e compositores que pensam que o único dever do artista é bajular e badalar o gosto do público.São os defensores da música batizada de "gastronômica" por Umberto Eco: dar ao público o que ele já sabe e espera inconscientemente ver repetido. Respeitar o código para ser respeitado. Na verdade, essa é a melhor maneira de iludir o público e desrespeitá-lo."
augusto de campos, 1968.

1.6.06

ce cocasse fruit jaune



o dia 31.5 tem me sido atribulado nos últimos anos. ontem mesmo, por exemplo, eu assisti 'o código da vinci'. não sei como isso se dá no livro, mas o clima de 'suspense' do filme da primeira cena ao fim é aflitivamente insuportável e bem, retrato da apatia convicta em que imersos convivemos um com os outros e mesmo o meu berro é de uma na-tu-ra-li-da-de.
o que importa é que saí do filme com a certeza de que foi um norte-americano que inventou o triturador de legumes, não foi? de qualquer maneira, é o mesmo mistério que envolve a busca de imagens no google, já que com oiseaux temos resultados muito mais exóticos do que com bird.
 

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