o rapaz de Singapura era fotógrafo e havia morado na Califórnia durante dois anos. o inglês dele me parecia incompreensível. me fez muita comida, batatas, arroz, tudo bem temperado para alguém doente. uma noite na cozinha contou para nós todos que sentia que finalmente voltava a acreditar na vida. um australiano skatista que andava pelas estradas dos alpes como se surfasse, brincou com ele, alguma bobagem, e ele disse que havia se recuperado de um tumor no cérebro raríssimo e que por isso tinha vivido na Califórnia em hospitais e - - - silêncio-.
o menino de Londres era padeiro, e tinha trabalhado durante três anos para conseguir viajar durante um mês pela Europa. era ele, o das massagens. o mais bonito entre os três. e desengonçado. todo dia de manhã quando acordava sentava num lótus com as costas curvadas demais, olhava as montanhas, respirava fundo, eu tinha vontade de rir. não com as piadas ambíguas pra cima de mim, que muitas vezes me deixavam constrangida. olha que não é fácil. e ficou bravíssimo quando lhe disse que entendia muito melhor o inglês do Brad do que o dele.
pois, o norte-americano era ruivo e tinha diabetes desde criança e me lembrava o weeks muito pela delicadeza com se entornar nos próprios braços. gostava de música, bob dylan, cocorosie, antony e música africana, nem lembro. ficou enlouquecido pelo araçá azul. trocamos as músicas graças que em cada cômodo havia uma caixa de som diferente pra ipods e afins , além de uma sala com (bons) livros nas estantes (até roubei um murakami em inglês) e violões a disposição de quem quisesse e jogos e enfim, esse hostel de gryon, foi o melhor que fiquei.
e era capricorniano de dois dias antes do que eu, então enquanto tomávamos muito chá, ele me corrigia sempre a temperatura da água não-fervente para o chá verde, e me explicava o que ia estudar no phd em harvard de biofísica e falando de cinema ele nunca nunca nunca havia ouvido falar em fellini. - - - - - - - - -
quando lhe contei a respeito da idade das minhas mãos, me disse que eu tinha que escrever um poema que dissesse aquilo das ranhuras das digitais. (ele nem sabe que escrevi numa primeira menção e se chama "arrumação") mas ficou assustado. sabe alguém muito sensível que não sabe que é muito sensível? então, saiu pra andar. e voltou horas depois, com flores campestres. ramalhetezinho pra mim.
era a última noite dele lá, teve uma festa, por acaso. os dois outros tinham ido embora na noite anterior. sobramos, eu e ele, que me bota um cat stevens pra tocar e me pergunta se eu conheço? eu tento dizer todas as madrugadas da adolescência na casa do duda em uma frase e ele me fala dos sonhos do obama 2009 de como tinha virado cientista de que queria era ser ativista na áfrica de que sei lá o que a caça das focas e ouve essa, sweet baby james,
se senta do meu lado. então, logo ali meu telefone que servia de relógio e lanterna, já que há semanas não se dizia nada, eram quatro horas da manhã na Suíça, o telefone vibra apita, faz uma festa de mensagem de texto, caminha pela mesa. eu tinha certeza que era minha mãe, confusa com o fuso. mas não era. compenetrada no meu "disso não espero mais nada", que surpresa palpitada. e ele me pede pra que eu leia a mensagem em voz alta, em português mesmo. li, tomada de felicidade, também de que só eu entenderia em quilômetros e que aquela palavra ecoando pelos Alpes e sorrindo ele me perguntou o que significava a última palavra e eu disse, há muitas milhas de lá e olhando pra ele, a última palavra de uma mensagem de texto - - -
o menino de Londres era padeiro, e tinha trabalhado durante três anos para conseguir viajar durante um mês pela Europa. era ele, o das massagens. o mais bonito entre os três. e desengonçado. todo dia de manhã quando acordava sentava num lótus com as costas curvadas demais, olhava as montanhas, respirava fundo, eu tinha vontade de rir. não com as piadas ambíguas pra cima de mim, que muitas vezes me deixavam constrangida. olha que não é fácil. e ficou bravíssimo quando lhe disse que entendia muito melhor o inglês do Brad do que o dele.
pois, o norte-americano era ruivo e tinha diabetes desde criança e me lembrava o weeks muito pela delicadeza com se entornar nos próprios braços. gostava de música, bob dylan, cocorosie, antony e música africana, nem lembro. ficou enlouquecido pelo araçá azul. trocamos as músicas graças que em cada cômodo havia uma caixa de som diferente pra ipods e afins , além de uma sala com (bons) livros nas estantes (até roubei um murakami em inglês) e violões a disposição de quem quisesse e jogos e enfim, esse hostel de gryon, foi o melhor que fiquei.
e era capricorniano de dois dias antes do que eu, então enquanto tomávamos muito chá, ele me corrigia sempre a temperatura da água não-fervente para o chá verde, e me explicava o que ia estudar no phd em harvard de biofísica e falando de cinema ele nunca nunca nunca havia ouvido falar em fellini. - - - - - - - - -
quando lhe contei a respeito da idade das minhas mãos, me disse que eu tinha que escrever um poema que dissesse aquilo das ranhuras das digitais. (ele nem sabe que escrevi numa primeira menção e se chama "arrumação") mas ficou assustado. sabe alguém muito sensível que não sabe que é muito sensível? então, saiu pra andar. e voltou horas depois, com flores campestres. ramalhetezinho pra mim.
era a última noite dele lá, teve uma festa, por acaso. os dois outros tinham ido embora na noite anterior. sobramos, eu e ele, que me bota um cat stevens pra tocar e me pergunta se eu conheço? eu tento dizer todas as madrugadas da adolescência na casa do duda em uma frase e ele me fala dos sonhos do obama 2009 de como tinha virado cientista de que queria era ser ativista na áfrica de que sei lá o que a caça das focas e ouve essa, sweet baby james,
se senta do meu lado. então, logo ali meu telefone que servia de relógio e lanterna, já que há semanas não se dizia nada, eram quatro horas da manhã na Suíça, o telefone vibra apita, faz uma festa de mensagem de texto, caminha pela mesa. eu tinha certeza que era minha mãe, confusa com o fuso. mas não era. compenetrada no meu "disso não espero mais nada", que surpresa palpitada. e ele me pede pra que eu leia a mensagem em voz alta, em português mesmo. li, tomada de felicidade, também de que só eu entenderia em quilômetros e que aquela palavra ecoando pelos Alpes e sorrindo ele me perguntou o que significava a última palavra e eu disse, há muitas milhas de lá e olhando pra ele, a última palavra de uma mensagem de texto - - -
2 comentários:
- - - - - -- --- a ultima palavra de uma mensagem de texto
só existe em português.
you must remember this
as love goes by
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