5.2.09

suíça, parte I

antes estava em avignon em direção a encontrar com a anna em budapeste. portanto, entre uma pessoa e outra com quem queria estar, havia ainda a suíça e a áustria.

num cyber café gritante, em que a ilana ganhou umas cinquenta coisas de graça, escrevi para a anna, que eu ainda não conhecia, dizendo que iria me atrasar dois, três dias, porque avignon estava uma maravilha e ainda passaria algum tempo em zurich e viena. depois anna me escreveu dizendo que ia me matar, e eu, ligeiramente magoada, continuei com meus planos. depois fui entender a Hungria, com ela mesmo me dizendo que isso se dizia pra qualquer um.

então, cheguei de avignon em genebra, já sozinha. genéve. o primeiro controle de fronteira que passei por terra. paravam os negros, chicanos, indianos. meu passaporte brasileiro e essa cara branquela nem nada. das poucas situações em que um olhar é mais preocupante do que a falta dele.

estava, juro, o pior calor de todos. minha mochila pesava infernos. eu já havia deixado em madri um guia de viagem, quatro blusas, uma calça jeans. não sabia mais o que soltar. além do calor, andando pela avenida a caminho da estação até o albergue duas coisas me impressionaram de cara na suíça: a quantidade de árabes em carros conversíveis e as lojas de equipamento de caça exibindo rifles enormes nas vitrines, instrumentos de pesca e até um -isso, se não fosse o teclado esdrúxulo, eu quis muito- um laptop com gps e a prova d'água. imaginava-me anos depois, vestida toda de cáqui, os jacarés mastigando meu laptop wi-fi no pantanal e eu em cima do bote amarelo recuperando-o numa pescaria, intacto.

deixei o inferno das costas no albergue. é assim: felicidade é isso. era domingo, tudo tão fechado e quente, comi carne de porco num restaurante chinês com varanda, andei andei andei andei até a sala de concertos da cidade, fechada sentei-me numa escadaria e percebi que eu estava muito muito cansada. de um jeito assim que não me lembrava outra vez. ao lado um prédio de mármore branco muito antigo e dentro dele uma festa tocando salsa com gramofone em castelhano. um homem me acenou da janela. acenei de volta. ele saiu da janela como se viesse. levantei-me e fui embora.

no meio do caminho apareceram as papelarias de lápis de cor, os chocolates, o rio. fiquei embasbacada, o reno enorme, uma fonte no meio dele lançando o arco-íris, no sol turistas vermelhos comendo algodão doce, um parque de diversões instalado para bochechas em cada margem e os árabes passando com suas burcas e ferraris. fico vendo o reno. de repente, meu deus, CISNES. cisnes ao natural, embaixo da ponte, a água mais cristalina do universo.




agora que vocês entendem que não é mentira
vou mostrar como vi mesmo um pato nadando contra a corrente
(como na música do cazuza:
só pra exercitar
todo músculo que sente)






sábio patinho. me dê de presente seu bis.

além disso, me constrangia demais a riqueza daquele lugar. genebra foi dos lugares mais absurdos em que já estive. eu me lembrava tanto do sertão da bahia, mas estávamos na suíça, eu e o pato, um lugar onde eu nunca havia me imaginado antes, ainda mais com tanto calor. e os árabes muitos árabes mesmo. parecia quase que não havia suíços, eram todos vindos de outro lugar, migrantes, milionários e os rifles. passei na frente de um mc donald's entrei na fila fiquei indignada que justo na suíça os milkshakes fossem só de morango ou banana. e eu já estava lá, comprei um de banana, pra experimentar. aquelas coisas que você não deve fazer na vida, nunca. mas né,

voltei pro albergue, tentei descarregar umas fotos pra postar no flickr, a merda do computador perdeu umas vinte, eu estúpida havia apagado, sei lá, deu tudo errado, fui dormir e antes comi meia barra de chocolate suíço. no quarto fiquei conversando com duas meninas espanholas que me encantavam por dizer "pueblo" como "vilarejo" e depois não consegui dormir porque elas não paravam de falar. fazer o quê? mandei umas mensagens pelo telemóvel português, me lembro da luzinha, não do que escrevi.

acordei e pensei: que budapeste que nada! eu vou é subir pros alpes. e fui, pensando, passo lá dois dias, nessa vida o que é isso?, a anna que me espere e eu vi os alpes, vejam. abri o guia, e escolhi: gryon, porque era o menor vilarejo que se anunciava por ali.

e na estação de trem de genebra:






lia na minha frente enquanto ia fumando meu cigarrinho enrolado. estava fumando loucamente. loucamente mesmo. o tabaco tinha começado como uma participação aditiva em Lisboa, mas tinha virado uma centralidade de um passar de tempo. quem fuma ou já fumou, sabe como é. é bom pra cacete. eu não fumo. mas fumava ali, em genebra, aprendendo que a suíça tem o maior índice de suícidios com armas de fogo pelo mundo. por que será?

então, no trem, a caminho de bex, entrei no vagão errado, tomei bronca de estar na classe errada, conversei com uns coreanos - são tantos nesses trens os coreanos pela europa, depois conto um de veneza-
e quando consegui me controlar, joguei i ching vendo

a paisagem suíça no verão:




as crianças suíças no verão:




o pacifismo suíço no verão:





- - -

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter