Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo: Como quem come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo.
Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.
Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode ser isso? Ser terno, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.
Hilda Hilst, III poema de "Cantares do Sem Nome e de Partidas",
em Cantares
onde também está o
I
Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena.E diminuta e tenra
como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.
5.5.08
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5 comentários:
Lindos. Já escutou a Mônica Salmaso cantar um poema da Hilda, musicado pelo Zeca Baleiro? Não? É lindo, lindo.
obrigada pela sugestão e já escutei sim, tata. e para falar a verdade, não gosto. não sei dizer porque. talvez ache que na somatória sobram forças demais, as palavras inteiras, a linda adorável voz da mônica e a musicalidade algo confusa do zeca baleiro. não sei.
É. Então, se vc conhece deve ter escutado tb os outros cantos. Acontece que o da Mônica foi o único em que não encontrei essa confusão mencionada, nos demais concordo com vc.
...
E eu tocava baixo ou violão, dependendo da música.
Identificação mórbida.
tata,
a monica é uma preciosidade que onde ela toca costuma transformar em bonito.
- -
lui,
identificação mórbida?! mas são poemas tão livres!
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