2.5.08



(esse post é para a cecília)
vejo em tudo aquilo que se faz um (índice de) risco.
nos fazeres manuais ou escaladas de everests, as margens entre segurança e risco talvez sejam mais claras do que na fotografia ou na escrita. alguém que faz uma coisa com segurança dentro dela e de si mesmo, costuma se expor a mais riscos do que aquele que teme por si ou por alguma outra coisa ausente.

por exemplo, nessa situação, em que estavámos recolocando a cortina, pensei em dizer para o alfredo tirar o grassmann debaixo da linha da escada e protegê-lo no chão. mas refleti que isso era uma coisa que eu, desacostumada a furadeiras, escadas bambas e construções faria para criar uma margem maior de segurança ao quadro e aos meus dias futuros (não ter que levar nada para consertar é sempre melhor do que ter). já ele, não. ele sabe o que faz e, por isso, pode aparentemente colocar um quadro em risco, sem nem colocá-lo, na verdade.

me parece que quanto mais alguém está seguro e atento fazendo alguma coisa, mais riscos é capaz de enfrentar, sabendo ou não deles. e vejo dignidade em parafusos e palavras. coragem, sim, para atravessar.

não sei quanto aos fotógrafos, mas maus escritores costumam trabalhar com margens de segurança maiores. não que não se possa ser feliz e bem assim. deve dar, que sei eu que nem comecei bem? sei que podem virar bons azulejistas de expressões sem fendas nem rasuras, sairem no jornal, minha tia pode comprar seus livros todos. mas criarem apoteóticos navios afundando, dedos congelados no alto de tudo, terremotos que se alastram por toda uma vida no planeta, ah, sem risco é bem raro.

5 comentários:

júlia disse...

notem, por favor, o sorriso animal da flora (a gata)
para as questões humanas num geral

vina apsara disse...

os gatos são os únicos seres da natureza que sabem o que fazem. por isso o olhar altivo.

nossa, adorei o seu post, de verdade... a foto antecipa e contextualiza, mas o texto vai além e surpreende. você detesta o óbvio e isso faz a gente, os leitores, pessoas mais saudáveis.

(agora eu ando substituindo os textos de auto-ajuda pelos esotéricos. perceba o quanto o tom dos meus comentários parecem as previsões do personare...)

quanto a tomar riscos, sei lá. eu faço isso na cozinha, antes de tudo, é como um ensaio para vida: sempre aceito conselhos, provo o resultado a cada modificação da receita, tudo com cautela e estilo, mas sempre de um jeito pessoal. há uma coisa mágica em cozinhar só pra si.

e a cortina deu certo?

sabina anzuategui disse...

Ah, a expressão do gato é assustadora.

Anônimo disse...

Eu achei q o gato fosse uma dessas esculturas de canto de parede, alguma carranca ou coisa do tipo.
...
Gostei da playlist.

júlia disse...

quel
seus comentários continuam me deixando pensar por dias
- auto-ajuda eu nunca tentei, mas têm dias que leio meu horóscopo três vezes. -
quero experimentar sua culinária experimental, parece melhor que a minha, que também se extende sozinha e dependendo o gosto do meu ritmo concentrado ou disperso, ou os dois, ou os dois.
a cortina deu certo sim. sempre dá. mas a região esquerda do alto da parede tem a propriedade da massa mole. vez ou outra, arrebenta, estoura. essa já foi a quarta vez em dois anos. até que é pouco, dados quantos dias tiveram nesse tempo todo e um dia já é todo um universo inteiro.
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sabina e tata, é, a flora tem das suas artimanhas, de parecer carranca e de dar saltos altíssimos, pelos ares.
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