16.9.06


ainda estava escuro, mas "talvez a manhã esteja começando", pensei ao descer daquele ônibus em "mais uma cidade histórica". chovia fino e eu tinha dúvidas, quanto ao século e a segurança da borracha do meu sapato, mas fui descendo a ladeira lenta, com a mala e a sacola que cada gente carrega na vida. dentro da mala de couro estava o que me falta, forrada e trancada mala de couro! naquele momento eu ainda não sabia, que havia esquecido a chave na última cidade em que me hospedara.
também, quem me visse de longe haveria de sentir aflição com a minha angústia, já que eu, tomando cuidado para não escorregar com a sola velha, toda vez que a sacola escorregava do meu ombro eu pensava em largá-la, "afinal? quem precisa dela?". mas alguém em algum lugar precisaria de alguma coisa que tinha lá dentro um dia, era o que eu pensava olhando para toda a frustração, através da boca frouxa de tanto que eu a abria. "para a desordem vou ter que comprar uma necessaire" e sorri de ironia, já sem fôlego. (dizê-los 'séculos' estão velhos também?)
vi uma porta de aço se levantando, da onde saiu um cheiro de pão quase pronto, e resolvi encostar minhas coisas, meu corpo no balcão e pedi:
-um café carioca e um estrondo, por favor?
a mulher quis saber da onde eu vinha, para onde eu estava, e mal tentei, começou a falar da tradicional festa da emancipação dos escravos que iria acontecer dali um ou dois dias. pois um homem entrou no salão e ela parou de falar. foi quando a mulher me deu a xícara com o café fervendo, encostando o dedinho de passagem no meu indicador e eu surpreendi um arrepio nas minhas costas, me comovendo com essa faculdade que retornava.
::
hurt

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