14.3.06

Nos dias claros como hoje, ao franzir os olhos, recordo-me que essa sensação me acompanha desde a primeira infância. Dizem que quando a memória nos ataca, ela vem galopando pelo corpo, até encontrar uma imagem mental que se combine com o que se sente. Poucas vezes como no caso de hoje isso foi assim, tão forte ao ponto de eu não poder recusar ao inconsciente cada recorte de imagem combinado a fibra corpórea. Imaginem uma sensação que na boca tem gosto de achocolatado no leite, succionado numa mamadeira. Compromete a força da memória do meu discurso dizer que me deram mamadeiras até os 7 anos de idade, mas o compromisso aqui é com a verdade (ok, machado de assis) e eu só parei aos 7 anos porque eles são a idade do cometimento escolar e uma orientadora na qual até os óculos eram gordos determinou que a criança que eu era tinha que parar com as 7 mamadeiras por noite. E eu parei, afinal, o que é a vergonha de saberem dos seus atos, não? Essa idade dos 7 anos me serve de gancho para lembrar que foi nela e com essa mesma sensação de hoje que um dia eu acordei e, em cima da mesa branca, havia uma televisão de presente, gradiente 14'' de anteninhas prateadas. O tempo passou e me sentindo assim ganhei pantufas, batatas cozidas às 4h da manhã, tomates temperados com muito vinagre, mãos na testa ao acordar e muitas, mas muitas caixas mesmo de kleenex. É claro que nós que gostamos de literatura, podemos apresentar a tendência de escrever as como se as coisas fossem boas e omitir o que eu estava omitindo: todas as tardes de sol que perdi dentro de um quarto escuro, todos os encontros que desmarquei em cima da hora, todas as vezes que tive de pedir ajuda pela necessidade dela ou, mais, pela carência interna que invade o corpo e quantas vezes mais repeli essa ajuda pela irritação de não ter ar suficiente no espaço. Isso sem contar a irritação com as pessoas que ligam ou te encontram na rua, ah como as pessoas se comunicam equivocadamente!, e nos saúdam com a frase simpática "gripada, pra variar?". Eu não preciso de gente que me oriente mal, eu bem sei o que signica a palavra 'gripe' e sua continuidade na minha vida, nos meus seios da face, nesse nariz imbecil que me fez passar mais essa noite toda com a impressão de que eu ia MORRER ENTALADA sem poder RESPIRAR. Vocês sabem como respirar é importante, ou não?

(O Breno uma vez escreveu algo como 'um braço por um nariz sem rinite'. Breno Caio, você tem o meu respeito nesse acordar congestionado.)

2 comentários:

Eva disse...

em dias claros ou obscuros, achocolatados ou ao leite, uma porrada de batatas ou uma tonelada de kleenex, vamos. e se, em literatura, tirarmos as tardes escuras, os desmarques e as carências irritantes, só vender-nos-emos em bancas de revistas; e o sol, é, nos ENCHE de alegria e preguiça. é, por que não?

(era uma perna, né breno. aí eu disse: buchinha do nooorte. mas ninguém me acredita. tentaste tu, julitz?)

flogisto_calavera disse...

era, eva e júlia, a perna esquerda. não é mais. anti-histamínicos, acupuntura e iôga. beijos.

 

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