8.5.09

problemas em construir um livro

será melhor (re)criar semânticas ou deixá-las se constituírem em paz na solidão delas próprias? quero dizer: constituir um sentido para além do sentido que já se faz entre os textos? mas isso não é um trabalho do silêncio? deus é grande, mas o mato é maior.

hum: meus textos são de uma infância. dous: a infância houve como uma fase adulta pré-configurada. antes de crescer eu resolvi andar sobre as minhas próprias mãos. e ainda espirro quando lavo o cabelo no fim da tarde.

chega de saudade.

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"Os caminhos afogados, as casas destruídas. Toda a gente vem para fora, hesitante, um pouco espantada. Não há lugar para as mãos, para os pés. Mas o ar vai-se tornando leve, penetrante. As coisas libertam-se do vasto abraço das águas.
Durante dois meses, na funda solidão subterrânea, preparou-se o tempo que agora se torna exterior e vivo. Talvez a lentilha e a cevada semeadas no outono venham a cobrir as planuras. As sementes dormiram e imaginaram. Talvez acordem agora para a reconstrução do mundo.
É então que um grande silêncio cai sobre os trinta quilómetros quadrados da ilha. Ou vem das coisas, do interior das coisas. É um silêncio extremamente doce, um equilíbrio supremo. A ilha adquire uma grave e grandiosa imobilidade. E a luz entra e sai pelas coisas, como se elas fossem esponjas. As mãos ficam muito nuas. É dos olhos que primeiro desaparece o sono. E da boca. De cada parte do corpo, lentamente, de todas as partes, até que as pessoas se abram totalmente. Como numa ressurreição."

Herberto Helder, Photomaton & vox.

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billie jean is not my lover
she says that i'm the one
but the kid is not my son

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cantos de estima? é menino!

2 comentários:

sabina anzuategui disse...

que bonito.

intruso disse...

Photomaton & vox

e a(s) tua(s) (des)construção(ões)


bj

 

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