31.8.08

de ironias e ervas

perspectiva

duzentos mil coches pela autoestrada a fugir do furacao
acordo em paris com dor de garganta por uma corrente de ar na nuca durante a festa


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primeiro escrevi que escrevo como quem corta o mato a abrir uma clareira, abrindo o mato para pelo caminho passar, ou simplesmente poder dormir em um espaco a chao aberto
pensei que havia escrito isso e quando voltei a anotacao percebi que escrevi: "escrevo como quem corta o mato dentro de uma clareira", e achei ironico que a clareira ja esteja feita e eu esteja sempre a cortar um mato imaginario
(ironico. e um pouco triste que eu ainda escreva como quem pede desculpas por isso)

nao sei se è lope de vega ou quevedo, mas escreveu que escrever è como
arar o mar

- - -
se felicidade se chama meios de transportes
felicidade è ovo frito no pequeno-almoco e highway 61 revisited no aparelho de som da sala 

- - -
em milao assinei um abaixo-assinado do povo italiano contra o uso de drogas pelos jovens
e amanha bem cedo volto a amsterdam 

28.8.08

a areia era tao longa, cinzentos olhos,
que se confundia com o mar ao fundo

feito um bondinho contava historias
do bordado da manga do vestido
lilas
no dia das maes de 1973, nao, o aperitivo era outro,
lambari e campari, serviam, nao, 1974?,
nao setenta e tres na certeza, porque o Dantinho brindou a fundacao do partido, ou 75 que havia morrido morto no escuro?

como um traidor
a torneira pingava.

e eu louca pra bronzear minhas pernas
aquecer as coxas
a memoria até um tempo sem historias

a crianca com o baldinho vermelho
afundar aquela ilha

nao nao continuava
eram bordados, pingentinhos e martini,

espantei uma formiga que subiu na perna
contou como o inseticida lhe corrompia as narinas
e voltou, o drambuie foi no de 82

era como a janela
meio aberta sem querer
quando a lufada de vento
subia e dancava a cortina para cima
depois ca'ia.

- - - -

a escritora bota fogo em seus
quatro diarios de viagem
em um gesto

(imaginario)

(que por nao ser levado a cabo
demonstra a fraqueza de sua vaidade
e sua reverencia pela memoria)

- - - -
nada é mais bonito do que uma brecha de ternura quando escapa de um homem e vem dar no seu rosto no quarto ao ceu da rua.

- - -

(a italia me faz entender melhor os homens)

- - - -

trabalho em circulos

vivo morrendo na floresta escura
e acordando no descampado
chao de barro rachado

escrevo como que corta o mato
dentro de uma clareira
iluminado pasto rasteiro.

27.8.08

conversas tipicas de albergues

(traduzindo do ingles)
a menina da coreia:
ah, bra-zil? eu vim aqui milao ver kaka!
eu:
o kaka, ah que legal, ele é realmente cute
ela:
e vc, aqui fazer o que veio?
eu:
aqui, onde?
ela:
em milao, - risos histericos
eu:
ah, estou a caminho de paris
(penso you mustttttt remember this: we always have paris!)
e continuo sem muita enfase:
e vim procurar uma olivetti typewriter machine, mas me disseram que é impossivel encontrar nessa época do ano que os antiquarios estao de ferias
ela:
ahm-aham
uma maquina do que?
eu:
de escrever,
ela:
ah, voce é uma typewriter - hahah datilografa-
eu:
a kind of
ela:
like?
eu:
a writer, as you know, we like stuff to write, computers typewriters machines paper
ela:
ahm-ahm
eu, tentando engatar de novo:
and do you play football?

e a cara dela de espanto.
- - - 
e nos alpes suicos

bem da minha idade a menina, Lorraine, chegou com uma mala de rodinha subindo pedregulhos
entrou no quarto
falou pra mim que adora a suica porque lembra sua casa no canada mas que sentia falta de jogar tenis tirou uma chapinha da mala e um livro de 300 paginas chamado
"around the world in eighty dates". e quando me perguntou quais lugares eu tinha gostado mais, eu:
-amsterdam, paris e lisbon
ela:
-lisbon? what is this?
depois no jantar ouvi dizer que nao acreditava no amor.

26.8.08

spingere

verona

in vino veritas

dizem que um copo de vinho por dia faz bem ao coracao. e quatro?

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e se eu escrevesse sem a memoria do aeroporto na cabeça?
- - -

e eles, os italianos, assim como os espanhois nao percebem falar uma lingua amorosamente de humoristas amantes e canalhas. e as placas entao? as vezes ainda melhores que em portugal. a minha favorita até agora:

estintore

- - -
sonhei que um aeroplano com um casal vestido de gala caia na piscina da casa em que cresci,
no meio de uma festa, era noite de céu estrelado, parecia que ia explodir mas nao, me mandavam chamar os paramedicos (e eu pensava: por que nao os bombeiros?), depois alguem arrancava uma cama de um lugar e fazia dela um berço, mas chega, nao vou contar o sonho, vou contar so a minha interpretacao:

inadequaçao familiar
me tratam como inepta
nao sou mais crianca
o aviao caiu e ninguem se feriu
os noivos estao vivos
viva o amor e viva o brasil!

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as saudades de casa me venceram.

estou farta de grandes cidades e
estou farta de cidades pequenas

(no elevador penso na roça
na roça penso no elevador)

paris boibepa desfiladeiro

e certeza que os carros sao o problema que liga todas as pessoas por uma ignorancia comum no mundo inteiro

- - - -
depois de dois meses de viagem, 9 paises atravessados (isso sem contar lichtenstein!) todas as trocas de lingua e a permanencia extensiva do ingles e do portugues, os amigos que fiz, as camas de albergues e casas de amigos em que dormi, digo que a educacao feita foi pelo minimo. pensei que fosse ter mais frescuras, sou uma pessoa fresca, afinal, mas que nada! bem mais simples, afinal aqui é verao, tanta coisa para se ver, tao poucas para se preocupar.

duas coisas me fazem falta: um lugar cotidiano em que eu possa fazer nada e olhar para nada e pensar em nada (casa) e comer cotidianamente bem (os pratos sao sempre caros e nem sempre bons como em sp, serio, sp é uma maravilha nesse sentido) :

em resumo:

felicidade é ovo frito com pao no café da manha
nao andar com nada nas costas
ter agua sobre o corpo
(chuveiro que desliga de dois em dois minutos, ter que lavar as roupas em meio a isso, metade da toalha estar molhada antes de tocar o corpo, ser sempre impossivel secar os pés e de repente, mesmo assim, com tudo isso, ser o melhor banho da minha vida)
e amigos em toda parte
e mais uma duzia de historias para contar

quanto as historias:

.invejo todas as vidas que nao sao a minha e por isso conto historias
.conto historias para, num movimento de apropriacao, nao invejar vidas que nao sao as minhas.

- - -
de dentro da loucura da consciencia passamos anos montando a consciencia da loucura
(i never lost control, ja dizia o bowie, o kurt tb)

e eu pensando jardins solidoes movimentos
amores no escuro e nao no claro
(é sempre triste, o filho, carlos)
e as plantas nao tem nada a ver com isso
absolutamente nada!
hoje nao tem fernando pessoa

mas tem jardim sem brutalidade
- - -
aqui tem um desenho de um telefonezinho no meu terceiro moleskine.

bacci tanti

(gente, isso aqui parece até a italia)

22.8.08

informes semanticos

em húngaro kiadó significa ao mesmo tempo: aluga ou casa editorial, editora.
hahaha cersibon eu hngrya morrouz de rir
manha verona bybye italia fui aiiii

- - -
tres dias já que abro essa janela de blogue para escrever contar dizer nada
budapeste tem cheiro de poluicao ai rinite atacou estomago ferveu
e a doce amiga ai ai dificil de deixar
e nao consigo escrever
no entanto ouco musicas que ja nao sabia quais eram com uma efusao e ana cristina cesar, por favor meus amigos, depois dessa tarde de absinto mais azul do que o danubio uma mentira cinza e larga, escutai

O Homem Público N. 1 (Antologia)

Tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
Não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha.
Que significa isso?
Há uma fita
que vai sendo cortada
deixando uma sombra
no papel.
Discursos detonam.
Não sou eu que estou ali
de roupa escura
sorrindo ou fingindo
ouvir.
No entanto
também escrevi coisas assim,
para pessoas que nem sei mais
quem são,
de uma doçura
venenosa
de tão funda.
---

boicote total aos rituais de atravessagem boa noite como vai adeus
meu gesto é no momento exato
sempre alegre ou triste
somente as emocoes
(que horrorosa é a vida sem cedilhas)

cersibon de peste


9.8.08

memoria

acalma teu brio de fugir, mulher
havia algo com que me deparar
que vinha desde a noite do nome que dei
a algo que eu sabia tao bem pequena
e que ate ontem nao sabia que sabia assim
alguma coisa com nome de amor
como uma luz que as vezes ilumina minhas maos
e a nitidez nas digitais

e sinto uma ternura imensa pelo passado pelo futuro
e lembro que tudo perece
tantas vezes 'e de noite
e me acompanha pensar na morte como uma insonia
uma insonia de clarezas
e noite passada acordei berrando porque pedia pesadelo para a amiga grita grita pra nos salvar
e ela nao gritou ao que eu gritei levantei a cabeca e olhei as montanhas
das minhas clarezas antes de dormir
e escrevi logo ao acordar:
esqueci
e fiquei olhando as montanhas e as estrelas pra ver se elas se mexiam

- -
estou nos alpes suicos
quando durmo da janela do quarto a lua
onde nunca antes havia me imaginado
no topo das montanhas agulhas de neve
nao furam o ceu
faz uma semana quase
que so falo em ingles
so leio em ingles, o wilde e o murakami, o melhor da estante
e finalmente consigo ler
e quando desco a cidadezinha tento me lembrar de dizer bonjour salut merci

- -
perguntei a diferenca entre o nome dele e o do pao
suscitou uma vogal e me mostrou outra musica folk
rimos muito for today i'm a boy
fez os cabelos da mulher que vai ser com feno
e depois com toda seriedade
pete seger james taylor nem sei mais
cabelinhos dourados
maozinhas ruivas
tambem ele ja se foi
'e lindo verao verde
ar tao limpo e gelado
vejo a neve no poster na parede do inverno e nao posso acreditar
de todo modo aqui 'e tudo tao controlado
ate as vacas so pastam para um mesmo lado
e quando voce acha que andou andou subiu para o meio do alto do teto do mundo
encontra uma lojinha minuscula servindo expressos e vendendo vaquinhas canivetes carandaches chocolates cuckos
tem la sua graca
no inverno deve ser uma paragem de descanso maravilhado

- -
hm, eu = miss brasil
o que mais sinto falta 'e da comida
ai ai que vontade de comer brasileiramente
em sentidos varios
- -

e leio minhas letras como se fossem de uma lingua estrangeira
ontem reli este blogue aberto
um tanto com esse olhar meio enjoado de resto de doente
e fui eu quem aqui escreve?
escreve aqui alguem com um universo muito particular
e pelo particular admiro
mas que nao sou eu
(mais?)
(mas?)

nao sei dizer se alguma mudanca com tanta velocidade de troca de cidade identidade de lingua de pessoas de imagens de espacos, em um mes e meio estive em 7 paises, acho
e esses textos que escrevi viajando parece como se a escrita tivesse
aereando branqueando apagando
ate ficar tao leve a ponto de ir
de ir com o vento

estou curiosa
para que va
e a palavra em portugues que mais penso e escrevo 'e:

"vontade"

calma essa cheia de vontade.

- -
amanha vou para berna, a capital,
ver o paul klee institut museum sei la
paul klee zentrum, é
4000 obras diz o lonely planet
mais vasto 'e o meu coracao

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3.8.08

genebra

a nota de cem francos suicos tem o giacometti figurado
o homem da minha vida que morreu antes de mim
afogo algas pelos rios imagina quando subir nos alpes
aparecem cisnes no meio da agua verde cristalina do rio
e juro que vi um pato a nadar contra a corrente empertigado
da obsessao fazer um gasto solitario de poder a caminho
e magnatas arabes passeiam suas ferraris lamborghinis e burcas

estou compenetrada nessa felicidade
meu caderno quase acaba e pretendo

nao ha tempo para dividir essa conexao

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randon time

2.8.08


avignon, demoiselle
 

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