28.6.08

queria te dizer do tempo
contar sem essa gripe que me pegou no ultimo dia no porto e nenhum lamento
porque as coisas tem um ritmo, os acontecimentos me levam a rimar,
sem querer

gostei muito do porto
passei dias muito felizes e noites mais ainda
depois que fui na festa na linda casa da cristina, de quem adoro as fotos e toda gentileza, e depois todos os amigos que vieram dela, o porto virou outros caminhos

e depois de alguns dias comparando brasil e portugal, desci ontem a noite no aeroporto de bruxelas, logo no metro me jogaram um engradado de bebida nos pes, me xingando numa lingua estrangeirissima, e fui cair nessa europa aqui, cheia de falas e ruas de outros tons

quando estava saindo do brasil meu pai me disse muitas vezes: "cuidado com a europa, ela 'e uma velha que esta morta". aqui tenho a impressao de que a europa nasceu morta.

nao vou ficar mais que hoje aqui na belgica para ter tempo ou nao de confirmar esta impressao um tanto ruim, ou talvez seja s'o finalmente uma terra estrangeira mesmo, esses teclados risipidos e sem acentos, e de manha uma vontade de valentine, que me espera dentro de um armario, protegida na casa dos meus pais,

aproveitei que estava uma chuva fina e fria (e eu espirrando por bruxelas) e fui ver o peter bruegel no musee des beaux-arts, onde estava acontecendo tambem uma exposicao do museu britanico, e eu, que tendo a me incomodar com os museus, gostei tanto de uma tela e de outra do chagall, e de alguns fauvistas, que chorei com cenas de outros tempos mortos,

chorar os mortos.

e depois fui ao cinema, numa galeria chiquissima onde se vendem chocolates e luvas de couro, perto da grand-place, que o guia recomendava "uma das mais belas do mundo" e onde havia pos-adolescentes bebados e fantasiados brincando de confundir turistas encabulados. e, no cinema havia cortinas escondendo a tela, e quando ela se abriu uma publicidade bilingue me fez rir congestionada e, no meio dos trailers, se acenderam as luzes e comecou a tocar bob dylan para uma senhora de bengala entrar e se sentar:

you know something is happening
but you don't know what it is

e depois comecou o filme, do vittorio de sicca, casamento a italiana, com o mastroianni e a sofia loren, e foi uma coisa!, com as legendas em frances e flamengo e a fala em italiano, fiquei trafegando entre uma coisa e outra, ate me esquecer das linguas e me ater as imagens, ao roteiro clarissimo e a interpretacao dos atores, claro. e eu entendi, sempre numa fronteira entre o me deixar levar,

amanha atravesso outra fronteira e vou para amsterdam.

- - -

al berto:

Mas nao te demores mais. Se quiseres, antes de seguires viagem, ensino-te os nomes dos animais. E se me deres a tua mao, queimar-te-ei os dedos, exactamente como queimaram os meus. Depois, poderas partir por essa linha litoral tracada pelo fogo sobre a pele.

e

-E se nos calassemos enquanto a memoria se esvazia. Esta tudo por acontecer. Mesmo o sono, se vier, tera um peso de lume, um sabor a terras mortas e areias salgadas. Nao sei... esta tudo ainda por acontecer.

- - --
finalmente de uma terra estrangeira a outra terra estrangeira, eu que sempre estive no comboio de tr'as, pouco a pouco, ouvindo os fluidos se deslocando no canal do meu ouvido, a olhar meus fios de cabelo crescendo dentro da xicara de cha, e a estes olhos presos na categoria de fundo, percebendo que tanta coisa pode ser diferente num simples gesto ou falta dele, porque que esta materia 'e limpa, limpissima,

talvez um dia eu saiba conseguir dar essa alegria que esse mundo precisa.

3 comentários:

ilana disse...

que bom te ler.

Anônimo disse...

Estou adorando seus relatos de viagem.

júlia disse...

é bom te ler aqui comentando também, ilana,

de todo modo tenho estado muito sozinha e em silêncio, caindo na internet ainda não toda lançada,

está uma maravilha

e logo logo a gente se vê,

te amo meu bem,

- - -
tata

que bom que você gosta, então continuo escrevendo e escrevendo,

beijos pras duas.

 

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