8.4.08

esperanças são retráteis

estou lendo O Passado do Alan Pauls. tenho tantos comentários a fazer, que por enquanto só quero dizer que se terminá-lo (contra minha mania enorme de trocar de livro pela metade) me prometo que vou escrever sobre demoradamente. (talvez faça uma comparação maluca entre ele e o Indecisão do Benjamin Kunkel.) não sei. (fazia tempo que não tinha vontade de escrever sobre literatura.) (também fiquei sem abrir parênteses durante uma fase). (e fazia mais tempo ainda que não destacava um cartão reproduzindo algum quadro do edward hopper para usar de marcador de página.) tenho afeto.

além disso, depois de passar pelo blogue do marcos querido, correspondente e articulista fui cair numa vontade de ler a hilda hilst (também por causa de uma conversa mais comprida com ela). quando olhei na estante, fiquei surpresa, que depois do machado, do drummond e da lispector, é a autora brasileira de quem tenho mais livros. entretanto, não tenho o hábito de lê-la, nem nunca tive, mas fui ganhando seus livros, pegando emprestado, e hoje eles se avolumam por aqui. muito raramente, como hoje, abro. raro não porque a despreze como quem a ignora, mas talvez porque a língua se misture com a fala de um jeito que me perverte. existem livros que me alteram a visão, a percepção, o pensamento e outros, como o Júbilo Memória e Noviciado da Paixão, a dicção. gosto do modo como ela constrói a paixão e o amor inteiro e multifacetado. fico levemente preponderada a ser raptada pela tua anta e volto a escrever o que mais gosto, poemas dos quais duvido. logo me recupero.

i.

não tenho nem
do amor, da vida
o conhecimento
que desperte o largo contentamento

amor tão mesquinho é amor,
amado?
e se nos espelhos imantados
te curvas na minha direção
e não respondes,
devo supor que não me vês?

ii.

(Can you now return to from where you came?
Try to burn, your changing name? - nick drake)

e se o fogo que corre na horizontal,
queimando trigo ramos aos milhares
begônias presas em luares
e alcança o pasto das ninféias
na linha onde o sol se põe
o fogo boiando sobre a água
atravessa os limites da cidade
e engolido pela minha garganta
atinge a força inescrupulosa
na ponta do meu dedo indicador
e, como conheces meu peso,
levantas de mim gemendo
pelos corpos atravessados
em lençóis de hotel, avisos, pústulas
num gesto, tudo em vão,
feito um sopro,
ao fogo!
contente mercador
de avisos, partidas, silêncios

2 comentários:

marcio leandro disse...

olha, isso é surpreendente pra mim. sempre achei que a senhorita h era mais íntima da senhora h...

Anônimo disse...

Delicadeza é teu nome?

 

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