Foi preciso chamar a atenção das crianças: parem de arrancar a grama, vamos fazer um desenho feito um contrapeso do que a nossa cabeça pensa. É a cabeça que pensa ou é o corpo inteiro?
O orelhão de perto de casa já tocou umas três vezes essa noite. Parece que perdi o sono. Parece que não me chamam de casa. Parece que a casa deixou de ser e esse cobertor morno só me enrola. Se você me convidar pra dançar eu recuso. Tenho o meu bailado, mequetrefe que seja, comigo mesma, noite adentro.
Vou extravasar num e dois e três: essa língua portuguesa é uma realidade mesmo, que coisa estranha, Clarice Lispector - - - a coisa estranha- - - dizer que queria não ter aprendido outra língua de tanto que te ama, português. A frase dela é bonita também porque prevê um comentário como o meu: se não tivesse aprendido outra língua, claro que não saberia como é está portuguesa. Português do Brasil. Faz diferença? Beibe, há quanto tempo assumi que muita. Mas será possível não desejar o alcance de outra língua, como o inglês, o latim ou o sânscrito? Me parece que seria como aqueles que pedem perdão a todo tempo o tempo todo, sendo que pra pedir perdão mesmo, pra ser perdão acabado, tem que ter cometido. E se eu cometer noutra língua, como vou enfiar a minha na boca e andar por aí? Tá certo, Clarice.
É e eu também quero os pés leves e desamarrados dos tecidos. Queria também ter mais fotos do dia de ontem. Tirei uma do guindaste. Guindaste é lero-lero dos iniciados. Diga sim que isso me diz muito, vou me aproximar cada vez mais desses sorrisos. Não tenha medo de colar em si mesma, ela tanto já te habita. Dias muito irrigados. Luz que arrebenta a cabeça, fecha os olhos irrigados de sangue. Sangue que se expõe ao perigo.
deixas o verão deslizar de mansinho
para o cobre luminoso do outono e
às primeiras chuvadas recomeças a escrever
como se em ti fertilizasses uma terra generosa
cansada de pousio – uma terra
necessitada de águas de sons de afectos para
intensificar o esplendor do teu firmamento
(al berto)
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