19.2.07


ela sofreu três fraturas na costela. quando acordei de manhã cedo, sobressaltada com a poeira que subia, tive que lembrar do médico dizendo a minha esposa enquanto a anestesia passava:

quebramos em falso três bisturis para ver se ela acordava
seis vezes escutamos timbres que do coração divergiam
de vez em quando ela agonizava e gemia:
-paris! paris!

ela sofreu três fraturas na costela
mas a senhora me perdoe, também quem não sofre enquanto espera,
'vai ver que nunca mais o amor faz de mim alguém?'

era uma dessas pontas de aço esterilizado que estavam por dentro do meu estômago e me fizeram acordar. a cidade, meu bem, estava pegando fogo. dez mil habitantes resolveram aleatoriamente seguir as prescrições da velinha de amsterdã de como atear fogo em uma metrópole sem perder o sentido. era o acaso minhas costelas estarem quebradas hoje de manhã. quando comecei a discar no celular, parei. pensei em ficar sozinha. pensei. fiquei lembrando da minha última corrida num táxi pensando que quando volto pra casa nunca sei se deixei mesmo o gás desligado. pensei que então era eu, claro, em mim que aquele fogo tinha começado.

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