21.12.06

"Sobre o delegado do condado- pois nesta história só vou falar dele de passagem- basta dizer que era grande romancista. Trabalhava havia meio ano num grande romance sobre a sociedade que era, com certeza, muito interessante, embora ninguém pudesse lê-lo, pois durante a redação o delegado tinha um hábito bem pouco prático: escrevia o romance inteiro num único pedaço de papel. Ao começar, preenchera toda a página. Depois, em vez de prosseguir em outra folha, tornou a escrever do alto da página cheia. Em seguida, ao chegar ao fim do papel, continuou uma vez mais, imperturbável, na parte de cima. Quando me mostrou o romance, ele o escrevia havia seis meses. Se levarmos em conta que escrevia de seis a oito páginas por dia- sempre e apenas na mesma folha-, o romance devia ser verdadeiramente longo. No papel, não havia mais sombra de escrita. Transformara-se simplesmente num papel preto, como se o tivessem pintado. Apesar disso, o delegado seguia escrevendo, feliz e sereno, todos os dias. Esse manuscrito não é invenção, mas um fenômeno na história da patologia. Anos atrás, quando contava essa história em público, eu às vezes acrescentava observações engraçadas, como por exemplo: "Seria interessante recomendar essa técnica a muitos escritores". Mas desde então descobri que o fato em si tinha muito mais beleza sem comentários desse tipo. Seja como for, não há mal em tê-lo relatado, pois é indissociável do cenário de onde o poste de vapor se pôs a caminho."

em O poste de Vapor, de Ferenc Molnár.

Um comentário:

Sérgio disse...

Olha, outra obra do autor d'"Os meninos da rua Paulo"...

 

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