Você me diz: num romance sussurraria em meio a um café atribulado zonzeiras dos carros:
"Estou apaixonada pelo meu professor de esgrima e ele usa as mesmas calças brancas colantes na rua. " ou "Estou apaixonada pelo meu professor de esgrima porque ele usa as mesmas calças brancas colantes na rua, em casa, no supermercado". Faz diferença no seu uso. Quem cria o muro e dá de comer a ele com as duas mãos, acaba por comer concreto.
Quem esconde? Quem cria o muro não chegou ao gosto do zero absoluto, onde repousam as coisas sem agressão. E não vê nuvens nem a ingratidão fingida de um telefonema noturno. Nem sabe só comprar com os olhos uma roupa, um esboço, uma pessoa, o amor, uma bússola: é desaprender a ter.
Como soltar?
Bem,
é preciso, inicialmente, pontilhar um retângulo na massa em branco, delimitando-o além do gesto. Uma vez marcado, com um martelete vá quebrando todo o trechinho, retirando com precisão o que esfarelar, até romper todo o pedaço escolhido. Feito o vão, não olhe mais para ele. Chegue mais perto do muro até encostar nele seu corpo, o lado de fora do ombro, do braço, da bacia. No vazio do buraco que você criou você encosta seu ouvido e ali está. No som que você ouve, é ele, o zero absoluto, na mesma medida que o silêncio, o silêncio sem comoção estratégica.
28.8.06
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