todas as coisas têm o mesmo valor, porque estamos milionários e todas elas morreram. é impossível se ter dois olhos, toda paisagem é inútil quando só se olha pra dentro.
você me amassa a cara atrás da biblioteca, na parede de pastilhas brancas, me envolvo tanto no seu corpo até virarmos de plástico, uma cortina de chuveiro pra qual alguém olha e o foco na estampa se perde, meus dedos, meus desenhos, meus amigos, somos todos ovelhinhas brancas tosadas no meio da noite e morreremos de frio.
levanto da cama, tomo o café que a minha mãe me prepara na boca, de fora pra dentro, de dentro pra fora, hurricane no meu estômago, beibe. desço, viro a esquina, "você é meu ilegítimo amigo?", penso, enquanto olho a loja de cristais. a vendedora sai de dentro da loja, derrubando o balcão, me toma pelas mãos e diz: 'como você está diferente', eu respondo com os astros e lacan e, pergunto, 'você sabia que quanto mais seco fica, mais flores os ipês dão?', ela arrasta o pescoço numa negativa que encosta a cabeça no chão. penso que deve ser por desespero, dela e do ipê, que as coisas são assim. as coisas. eu não, apesar de uma coisa.
peço ao atendente do açougue "um jornal, por favor, que não esteja úmido, de ontem ou de antes de ontem", ele me dá o nossas coisas são coisas nossas de 2008 e vou dar na praia, sentar num chão de areia cristalina oposta aos brutos flocos de mar. a brisa ruge, me inflama as faces e atravesso a rua novamente, esqueço o deserto, olho de frente as montanhas e no alto do pasto vê-se mais que um arbusto, um boi mugindo que a umidade arrebenta mariscos.