Sou para mim mesma como um cachorro
às vezes o chamo de filho
e rolo a bolinha vermelha,
nem sempre ele vai atrás,
embora no escuro me rangendo
os dentes baba, é um estúpido,
late e rebola a cauda pras visitas
Desconfio que é ele quem rói
cebolas pela casa gota a gota
e de manhã a camareira do seu
hotel limpo com o kleenex gasto
Passo semanas sem vê-lo
embora na mesma sala empilhe papéis
jogos de montar, enquanto ele,
esquecido, dorme
Nunca a céu aberto
é um cão de compartimentado
na estante das vértebras é um peito
porta-porções fraterno largo
não ao amante todo meu cão é cruel
afeto, de fazer destino contra vontade
Embora finja, às vezes, a loucura dos mendigos
não sabe suspeitar a chuva
nem nunca confunde trovões
com estrondos nas noites de festa
quando ao longe ouvimos os artifícios
eu sorrio, ele tapa as orelhas caídas,
O cão é com quem atravesso a rua no colo
no momento de ano-novo
na noite de reveillon
da cidade em que nasci
É tanta luz dos nossos olhos
que dele no céu se confundem
às vezes o fogo cão me cega
e eu lhe sigo, em órbita
a lambida na minha mão pois
se do mar fosse marujo, lobo
o sul nossa estrela e cruzeiro
a sua língua é uma onda
a dobrar ternura sobre meu dedo.
14.12.08
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