21.12.08

a árvore do desejo

meu pai ia até cotia e comprava em algum recanto do fazendeiro ou loja de planta um pinheiro de natal num vaso. levava para casa e eu gostava quanto maior ele fosse. se precisasse de escadinha pra pendurar os enfeites, melhor! era disso que eu ia falar, de como gostava de uns dias antes do 24, puxar para pisar a cadeira de couro de grupo escolar do estado e tirar do armário a caixa de enfeites. o papelão a cada ano mais esgarçado e os enfeitinhos, como meninos empoeirados. e em frente a nova árvore que continuava sempre o mesmo pinheiro, pendurava os decorativos, bolinhas de metal, bonequinhos de madeira, casinhas de cerâmica.

até que veio um ano e alguém me deu, antes do natal, uma caixa de pequenos tsurus brancos amarrados em linhas e eu os pendurei dezenas pelas linhas nos galhos. não me lembrava disso quando fazia os tsurus de papel com dedos de vidro na biblioteca pra esquecer um amor esquecido. às vezes as linhas arrebentavam e eu só amassava os passarinhos, jogando-os no fundo da caixa com os estilhaços das bolinhas de metal muito fino.

teve um outro ano, ninguém olhando, num impulso arranquei a tomada de energia elétrica das luzinhas coloridas que piscavam no pinheiro e enfiei na boca, chupando. tomei um choque! na boca! meus lábios grudaram um pouco. não sei o que aprendi ali e nem quanto isso me marcou. foi horrível e tive vontade de rir. acho que, em verdade, dei um grande riso.

2 comentários:

Anônimo disse...

no teu blog parece que encontrei um quartinho dentro de mim ;)

júlia disse...

bueno, muy bueno, gracias
cuidado que as paredes têm espinhos
;)
beijo de feliz natal

 

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