18.9.08




i.

há algo em mim que se esconde
e depois aparece muito tão forte que
as nuvens se confundem com o atlântico
azul e branco lá embaixo
não sei não sei não sei

assim eu gostava que fosse minha última página
que se lançasse por sobre essa janela
e que quem a lesse comesse feito se bebe água
da chuva a boca atravessada de pingos

sem ter as vilas montes praças pra olhar
tenho tantas imagens disso e daquilo nos olhos
que acho que em casas de viagem
para sempre vou ficando

e de repente, olho para fora e vejo a borda,
isso só pode ser muita sorte,
estar a ver a terra à vista, o avião entrando de frente, o continente!
américa,

ii.

quando olhei a cidade vindo por baixo da asa do avião
o caule dessa flor inteira técnica
de homens em que voávamos
disfarcei costurando o botão imaginário de um reencontro
do além-mar que me partia

olha o monstrengo, vem lá vindo, disse
a voz dramática
meia furada
essa risada

o monstrengo tem braços de morcego
tamanduateí jabaquara anhangabaú
nomes de antigos povos que lhe deram
às veias cinzentas e cheias de pelo

um casamento do mamífero voador com polvo já frito
axolote esnobe que me fascina
ninguém sabe o nome de são paulo
se vem de espécie rara ou é doença de família

- - -

de quando em quando me despeço

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