14.6.08

feito fogos de artíficio, se desintegrando pelo ar, assim eu evitaria o poema e é assim que ele se dá.

começo a escrever qualquer coisa para alguém que não tem destino
digo: pode acreditar, agora eu sou vilão.

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toda vez que me levanto são minhas pernas que se dobram sobre os olhos
tenho vontade de colar a parede do meu peito e ventre nas coisas, homens e objetos,
feito um animal que se pendura numa árvore, numa mãe,
mas caio ausente no meu caminho
e me vejo para sempre confinada a este corpo
e digo para os outros: nunca verei através dos seus olhos
e penso: a ficção me permitirá?

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me deixo recados para o futuro, como alguém que deixa o objeto necessário no caminho que fará na manhã seguinte. pensei muito longe, eu estava na praia: "estou cansada de me parecer com as pessoas" e encontro isso mais tarde, ontem ao voltar da rua, pendurado na cortina da sala e viro um sorriso como basta pensar uma coisa e esquecê-la do melhor modo para que ela retorne e finalmente seja. "colhe as flores, gosta delas e esquece-as", isso é drummond ou pessoa?

e quantos poemas perdi por não anotá-los? mas não me importa, tenho que confiar: a memória como uma corrente sangüínea, que hora ou outra não nos trai.

mas e se a poesia é um território para o impasse, para o embate,
de tempos em tempos algum lado -alguém - tem que vencer um pouco? sair da indeterminação, dizer?

que seja alguém que escolhe pela vida. e logo se volta ao embate novamente. e se esquece.

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já não sei mais se é só ansiedade ou se é só angústia.

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