tudo é mesmo um pedaço completo partido pela metade e doado ao pó e a umidade
é "muito mais do que isso ou nem tanto ainda"
o escuro está amanhecendo ou foi o sol que se foi agorinha?
e todos se calam.
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Lembro da última festa de aniversário que fui, depois de beber quase meia garrafa de vinho do Porto um amigo tentava me fazer entender o que é um poeta da continuidade. Tive calafrios na nuca quente. Eu não, olha, sou artista da ruptura do sono. Sabe aquela história do é preciso? É preciso se ter os olhos abertos, mas somos obrigados a dormir. Dormir é uma das espécies manifestadas da ilusão. Foi para não ser pega dormindo acordada, que comecei a me estipular certas atitudes. Acordar bem cedo, de madrugada, virou a minha primeira ruptura, e, como era bom! começava logo cedo a minha força.
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O silêncio já estava absoluto, todos prestavam atenção. Só eu ainda não tinha conseguido uma posição confortável. Subi na ponta da cadeira do cinema, sentado sobre o calcanhar. Estava empertigado pela dúvida de todo personagem: entre ser eu e ele, você sabe bem como é estar sozinho e acompanhado a todo tempo. Na tela, estava na ponta da borda da terra, quase no mar, parado bípede, os pés se fincando pela areia conforme a umidade subia. Uma cena cinza, o mar tão da mesma cor que o céu, que a areia também, só podia ser mesmo um recurso técnico, alguma espécie de filtro nas lentes. Uma alteração freqüente e sempre repentina entre os pontos do foco. Essa alternatividade ia acompanhando os arbustos, se via o último casal saindo da areia para o apartamento e de repente os gestos dos dedos estalando o ar, tão próximos do punho onde se notava, de antemão, a ausência de relógio fronteiriça com o início da pele coberta pela capa de borracha, de um azul-marinho focado sem dispersão, tonalidade no dia tão ausente no água do mar. O que essa história tão imóvel poderá contra a minha agitação ancestral?
19.12.07
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