2.11.07

A cidade está ardendo no meu apavoramento. A cidade ferve seu caldo de desdém pelo meu imaginário. Antes, eu tinha medo do que é a imaginação, o feltro úmido que enrola a garganta madrugada adentro e faz tudo parecer impossível e tão provável. Eu agora tenho medo da falta de imaginação. Tenho medo da compreensão, da interpretação e de tudo que não for ruptura. Parei neste outro galho e espero que ele não se quebre para que eu possa romper-me, incongruência qualquer de um espírito irônico e devastado.

E fique sabendo: quem não se arrisca não pode berrar. De repente, que loucura fina. Ser capaz é um dos modos de ser vulnerável. Olhos queimando, correntes de sangue, louvor transformado em vazio. Vamos acelerar, romper a concentração e toda a idéia de aperfeiçoamento. "Não tenho inveja às cigarras, também morrerei de cantar." A concentração será deixada para momentos mais solenes do que este, não é? Não, é não sei. Estamos inteiras na intimidade de não agüentarmos mais, o eu múltiplo, reificação solene do indíviduo, chegou ao limite. Não seremos mais destros. Não toleraremos o riso escarninho dos presentes afigurados.

Quem sabe de mim, é a minha própria aproximação de mim. Bela morena em seu vulto de carne, por exemplo: Estou indo para Cannes vestida de branco. Estou indo para Cannes esbanjar, mostrar pra todas as usuárias de diurético que a realidade que eu conheço é reter e, que, por isso, todas as coisas me atingem. Misturei nossas vidas com as dos outros e agora não sei se posso; te aceitar: como? Agora você me cansa pelos excessos de estágios de encenação que eu tenho como destino a levar te sucumbir? As pessoas nunca me comoveram tanto.

Solicito a entrada de um novo expediente. Que venha de patins, o novo expediente.

Pensei, pensamos, dissemos: por que ninguém nos escreve cartas de amor? Estou interessadíssima em cartas de amor. Estou explícita para cartas de amor.

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