25.11.06

sobre a ausência

os avisos
i am the conscience clear
in pain or ecstacy
and we were all weaned my dear
upon the same fatigue
staring at the sun, tv on the radio

-cuidado que seu quepe! assim, vai ao chão!
mais uma vez eu ouvia aquele absurdo vindo de um qualquer na rua. não se tratava de um quepe, era meu chapéu de proteção contra detritos, coagulações de espécies várias que vindas do céu podem me atingir.
mais um início de noite chegando. eu costumava acender a pequena lanternola de pouco mais de vinte watts que ficava por cima num mecanismo todo do encarnado, mas que, nesse momento, falhava. entrei no primeiro lugar de serviços que me apareceu a frente
uma mulher jovem vestida de rosa cobria metade do rosto com o antebraço, debruçada no balcão. ao me ver entrar, não trocou as feições. não perguntando o que eu queria, não antevi nenhuma forma de aproximação: fiquei olhando para os lados quase ao chão, notando num gesto com a cabeça que algo sempre faltava nas estantes. assim composto, pouco a pouco, consegui chegar até perto da moça. e falei.
ela não me ouviu. quando percebeu que eu estava falando com ela, desligou o pequeno ventilador azul que estava perto das caixas de costura no canto e fez um

que é?

com a cabeça acompanhado a mascada de chicletes. caçoei de mim mesmo, rasguei a garganta e falei:
-procuro por pilhas, minha senhora, das do tipo AA.
-"margareth!"-ela berrou lá dentro-"a moça aqui quer pilhas"- de mim.

lembrei da tarde em que cheguei na escola para as aulas e a minha mesa da sala havia sido retirada, para onde não sei. eu costumo mesmo é ficar de pé, mas era dia de prova. desfiz que fiz comigo então que eu não faria. não dei, não fiz, saí, atulhada em direção à diretoria, ao seus juízos de acaso. a diretora me perguntava, "não deu e saiu assim da sala? deixou-os sozinhos? o que será que eles estão..."

a margarete veio saindo de dentro das paredes, de trás do tapume onde fica a placa

entrada exclusiva de funcionário,

sem plural. lá dentro deveriam estar as caixas das coisas que ainda não estão aqui fora. a margarete trazia algo pela mão direita. com a outra, subiu os óculos do nariz para a testa e, finalmente, aos olhos:
-6,56, moça.
dei o dinheiro a mulher, fedendo ao maço de cigarros. meu deus! o que a margarete iria pensar de mim? ainda bem, ela me deu o troco, como se fosse um passe bem.
quando voltei a rua já era noite. acertei o mecanismo, e, com o tranco de romper a embalagem das pilhas, pronto! a lâmpada voltou a funcionar com as velhas mesmo,
sozinha.

tudo o que não importa está ausente.

Um comentário:

Anônimo disse...

saudades...

 

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