7.8.06

saber se inventar


não se afobe, não
que nada é pra já
o amor não tem pressa
ele pode esperar em silêncio
num fundo de armário
na posta-restante
milênios, milênios
no ar
e quem sabe, então
o rio será
alguma cidade submersa
os escafandristas virão
explorar sua casa
seu quarto, suas coisas
sua alma, desvãos

sábios em vão
tentarão decifrar
o eco de antigas palavras
fragmentos de cartas, poemas
mentiras, retratos
vestígios de estranha civilização
não se afobe, não
que nada é pra já
amores serão sempre amáveis
futuros amantes, quiçá
se amarão sem saber
com o amor que eu um dia
deixei pra você

(chico buarque, futuros amantes)

2 comentários:

nada disse...

júlia, parece que às vezes, não poucas, seus dedos e textos estão narrando dias muito meus. não sei bem se o termo "narrar" é o adequado para o que estou sentindo/pensando e isto também pode soar meio besta - tem toda a história do olho e sua performance nas coisas, etc. mas qualquer coisa pode ser sempre um pouco mais incrível, não pode?

Anônimo disse...

como conseguir
e esquecer tão rápido,
se ver livre,
de ver mais.

um você moribundo, ele
não vem,
ele vem depois.
e ninguém se vê solto do rodar denovo.
e denovo.

 

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