26.3.06

She is electric, can I be electric too?

o tempo alastrou-se e o que parecia medo de errar na verdade era incapacidade de síntese.
fazia muito tempo que eu não lia clarice lispector. (o seu a descoberta do mundo, como oráculo, céci.)
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não são só lacunas. na noite passada você continuou o assíduo do meu sonho. mas minha dor em seu nome cessou. agora, sem lembrar de você, o choro é outro, foi melancólico. no
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minha relação com s. se dá pouco. fomos melhores amigas durante quase 10 anos, naquela fase que temos amigos que dormem semanas na nossa casa. entre s. e eu não eram semanas, mas anos. s. me retirou de uma infância das brincadeiras solitárias num quarto escuro, nas minhas naves espaciais com torresmos de comida de astronauta, e me levou pra um outro rumo: a primeira vez que eu andei sem um adulto na rua, foi na dela, a renato paes de barros. uns anos mais tarde mudamos nossas explorações e ela virou sócia do clube da rua debaixo da minha casa, sendo que morava há uns 40 km dali. no itaim, andavamos nas ruas atrás dos executivos, falando alto em grunhidos e sons imaginados, fingindo que falavamos em inglês e eles nunca perceberiam a nossa farsa. na granja falávamos de meninos, fumavamos cigarros bebendo gatorede depois dos jogos de futebol, pura parceria, se s. era destra, eu chutava de esquerda, se s. sabia driblar, eu sabia chutar, s. sabia correr eu sabia esperar. criavamos rotas de fuga emergenciais do topo de todas as árvores e quando s. sorria não tinha pra ninguém, era uma explosão luminosa. s. vivia em mim. sem s. eu não vivia.
talvez por ter em si toda a força, uma hora eu e s. tivemos que naturalmente terminar, pra cada uma se fazer do seu jeito. assim, deve fazer uns 6 anos que nos falamos duas vezes por ano, em janeiro e setembro, nos nossos respectivos aniversários. no meu de 21 anos ela apareceu, atrasada, às 4h da manhã. eu não a reconheci imediatamente, pensei 'quem tem a coragem de chegar de bicão numa festa tão íntima a essa hora?'. e a penetra veio subindo a escada, enquanto seu rosto desconhecido se focou como a cara da mãe de s., mas era só aparência, s. estava mesmo ali, com cabelo cortado, 4 anos depois. o reconhecimento me fez, imediatamente, chorar.
encontrei a mãe da s. na semana passada. ela me disse, se referindo a mim 'a melhor amiga da minha filha' e eu, que continuo sem ver s. desde então, saí de olhos marejados.

é uma história bonita.
ao som de champagne supernova. e depois de cat stevens, em homenagem ao d. que tanto conheceu de s. também.
logo vou procurar por s.
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i'm the laziest girl in town. deve ser amor.

2 comentários:

Anônimo disse...

Moça, te encontrei dia desses por aqui e me assustei com os textos. De uma originalidade, mesmo quando discorrendo sobre temas clichês. Muito bom. Logo voltarei a ter blog e então poderemos trocar figurinhas. Parabéns pela escrita, pela suavidade, pela sua forma de olhar. (a gente parabeniza alguém pela forma de olhar?) Abraço.

júlia disse...

gentilezas. me conta aí, quando blogue tiver, okei?

 

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