e me chiamaste: "Aiuto, Marcello"
la tua Gioconda à paura di quest'onda...
ridere ridere ridere
di questo infelice qui
Adoniran Barbosa
la tua Gioconda à paura di quest'onda...
ridere ridere ridere
di questo infelice qui
Adoniran Barbosa
E a lagoa tinha fundo, eu conferi, lá embaixo. Como aconteceu com os livros sedimentados de Güiraldes, o tempo que na água silenciou e pela água destruirá. Disseram que em 2005 bastava chover pra um dia se realizar. Eu vi também muito dia ensolarado, dia azul ou não, importa? Dos tsunamis aos mares de ressaca, as lágrimas arrastaram muita coisa.
Dizem que a vida continua a mesma ano após ano. É claro. E eu duvido. E como se cada ano fosse uma lacuna, experimento umas memórias.
2005 pra mim foi um ano de dúvida, frustração e muita solidão. Ruído mental inútil, dissolução, desespero e ansiedade. E ao mesmo tempo e com isso tudo, 2005 foi dos melhores anos da minha vida. O espírito é masoquista? Complacente? Ou como um herói de tragédia, o reconhecimento se dá pela dor? Porque é sim, como no livro dos prazeres, uma aprendizagem. E leva sim, nalgum lugar, nem a frente, nem pra trás, mas noutra estância. É que fiquei solitária de vida. Talvez o resultado de uma agitação mental absoluta, de quem encara o buraco de dentro e não pára a engrenagem. Mas foi a primeira vez que desautomatizei minhas formas sedimentadas de viver, de conversar, de amar, de ler, de ouvir música, de escrever, de dançar. E sei que eu quero mais disso, de outras coisas, de muitas vidas. Mais isso é agora, depois. Teve o absoluto cansaço de uma solidão de vida, de quem nunca rompe o dique: fiquei com paralisia: parei de ler, parei de escrever, parei de sair. E, se a vontade de amar em parte paralisava o trabalho, foi na superfície dela que refletia outro retrato: estava vagando pelo mundo como um cego que, embaçado, não sabe o que fazer com tanto tato e vai esbarrando nos muros, ou, antes ainda, se protege entre eles. Já me interessava pelos desertos. Comecei a amar os guindastes e outras formas banais de destruição, alardeei o meu búfalo e se alguma porta está aberta, é que só fecho depois de sair e o lixo pra chave. Então por charme eu aprendi a discordar do Drummond, já que o amor, como quase sempre, resultou útil. E os olhos não choram mais e entendem alguma coisa a mais.
Sei bem que os últimos dias do ano não são os últimos dias do tempo, mas faço minha missa pelos mortos e não vou dormir quando 2006 chegar. E não quero mais a contra-mão, que meu tempo é esse, de leito de rio: calmaria no tempo claro ou esboço de fúria; com o desembocar de preferência no mar:
Dizem que a vida continua a mesma ano após ano. É claro. E eu duvido. E como se cada ano fosse uma lacuna, experimento umas memórias.
2005 pra mim foi um ano de dúvida, frustração e muita solidão. Ruído mental inútil, dissolução, desespero e ansiedade. E ao mesmo tempo e com isso tudo, 2005 foi dos melhores anos da minha vida. O espírito é masoquista? Complacente? Ou como um herói de tragédia, o reconhecimento se dá pela dor? Porque é sim, como no livro dos prazeres, uma aprendizagem. E leva sim, nalgum lugar, nem a frente, nem pra trás, mas noutra estância. É que fiquei solitária de vida. Talvez o resultado de uma agitação mental absoluta, de quem encara o buraco de dentro e não pára a engrenagem. Mas foi a primeira vez que desautomatizei minhas formas sedimentadas de viver, de conversar, de amar, de ler, de ouvir música, de escrever, de dançar. E sei que eu quero mais disso, de outras coisas, de muitas vidas. Mais isso é agora, depois. Teve o absoluto cansaço de uma solidão de vida, de quem nunca rompe o dique: fiquei com paralisia: parei de ler, parei de escrever, parei de sair. E, se a vontade de amar em parte paralisava o trabalho, foi na superfície dela que refletia outro retrato: estava vagando pelo mundo como um cego que, embaçado, não sabe o que fazer com tanto tato e vai esbarrando nos muros, ou, antes ainda, se protege entre eles. Já me interessava pelos desertos. Comecei a amar os guindastes e outras formas banais de destruição, alardeei o meu búfalo e se alguma porta está aberta, é que só fecho depois de sair e o lixo pra chave. Então por charme eu aprendi a discordar do Drummond, já que o amor, como quase sempre, resultou útil. E os olhos não choram mais e entendem alguma coisa a mais.
Sei bem que os últimos dias do ano não são os últimos dias do tempo, mas faço minha missa pelos mortos e não vou dormir quando 2006 chegar. E não quero mais a contra-mão, que meu tempo é esse, de leito de rio: calmaria no tempo claro ou esboço de fúria; com o desembocar de preferência no mar:
Não sei muito acerca de deuses; mas penso que o rio
É um robusto deus castanho- taciturno, selvagem e intratável
Paciente até certo ponto, reconhecido primeiro como fronteira; (Eliot)
Se 2005 foi aquático, aquele iupi-urra a toda água engarrafada, seja no Tibet ou em Lindóia. Um viva até mesmo para a grande água, favorável de atravessar ou propícia a afundar. Às vezes a alegria cessa, às vezes é maio, é hora mais melancólica-outonal, pelo bem das macieiras que ainda vão dar maçã. Ou na felicidade estridente do verão, já que os cajuzeiros ainda vão dar muito caju, se o país é tropical. E por todo o sempre até o último dia de tudo, somos contentes com todas as trocas de terra n'água, de saliva com o ar, do ar com o ar e, last but not least, de saliva com saliva. "A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia."
Espero que 2006 seja como será. E que o de vocês seja ótimo, queridos.
2 comentários:
sim, que venham a nós todos os mares, calmos ou bravios; rios subterrâneos, grandes águas atravessáveis, geladas com ou sem gás; lagos sobre lagos, nascentes, riachos, águas ancestrais; águas que levam, que trazem, que vão.
e que tenhamos barcos e remos, braços, cordas, velas, ventos; e claro, alguma razão.
e dois mil e seis foi um ano do caralho!
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