30.7.09

notícias do equilibrista

uma vez um grande amigo, mais velho e sábio, que recentemente perdeu a mulher, me perguntou "como é que você vê o mundo?" e eu, em vez de responder, "a cores, ou nas cores que acredito serem cores, porque afinal saber um fruto é comê-lo" ou qualquer divação honesta, porém arbitrária, respondi "o mundo pra mim é um espetáculo".

nesse momento, eu me sinto a dona do cabaré, atrás das cortinas, puxando as meias finas pelas pernas das meninas. é claro que está tudo em cima da hora. no máximo se tudo não ficar pronto em tempo, eu viro pro x lá segurando o copo na abertura e digo "pô, x, deixa aí o vinho e vem segurar essa escada" .

é isso, gente, animação, fogo e maestria.
ou arrancar esta fantasia.

26.7.09

hoje a gente começa a montagem mesmo da exposição. por mais que esteja (quase) t udo projetado, programado e pensado, estou entrando de costas e no escuro. quem está pleno, não cria. não há risco sem abismo. nem criação sem risco. atravesso de costas o tato das minhas costas.

e quando eu me lembro de um rosto, como se o futuro estivesse num traço de lápis, num sorriso de alguém, penso: os bastidores são o palco.

e nada mais do que escrevo faz sentido

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há certas inegáveis

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inegáveis horas de amor.

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aqui em cima
uma trilha
para os cegos

de amor, sobretudo.

25.7.09

virei um morcego uma asa delta
o que importa o areal, a morte e a desventura

aprendi tudo que eu sei sobre o rock and roll antes do que com ninguém foi com caetano veloso. caetano veloso nasceu em santo amaro da purificação, um ano antes, em Cosmópolis. não ouvi o último disco dele. não ouvi todos os discos dele.

quando eu não sei para onde ir ou me esqueço de quem tenho que ser
a única coisa que mesmo funciona é ouvir o caetano veloso

esse rapaz, teve uma vez, que eu fechei os olhos e era um trapezista vestido de verde que ria os jasmins entrando pelas narinas saindo espinhos das mãos misturando palmas com espinhos que ambos não se feriam de tanto sangue que tinham

e ele ou alguém ou a bailarina com o cavalinho e a estrela na ponta do bastão atravessavam aos ciclos o céu. e esse rasgar de asa de balanço vindo do céu, o circo da minha vida estrelava, eu me alagava entre os seres mas lhe tinha lhe tinha e ia indo.

um dia eu chegava. um dia eu voltava. um dia (ou muitos) eu estava. partindo.

depois inventei os textos, continuei entrando em meia dúzia de táxis.

eu vou te dizer o quê?

que é a coisa mais linda de todas?

acho que entre essas duas coisas está o que eu quero de mim mesma

daí vira meia dúzia e fala que ele decaiu que ele já era que ele ficou chato que ele

ah poupem-me meia dúzia de fulaninhos virando amassar de jornal

adeus, vou lavar o rosto.

23.7.09

12 exemplares em exposição




o projeto em que desde setembro do ano passado estou com tantos que eram 12 que hoje já são uns 25, 30, será apresentado em exposição
estou cheia de riscos e amores
vou dizer: amplia o convite e descobre lá.

19.7.09

os guardas dormem na fronteira

De repente manifesto
a gente

vai se voltar a um outro escalão:
montanha, névoa, marulho, o metrô que é o nosso trovão

então você acha que os cantos estão mudando de lugar
mas é a gente que vê os homens constrangidos da cidade

e tenta: enseada sobre asfalto, essa manhã,
porque tudo que é, é o nosso

estou no ponto pro Jardim da Glória, lendo a realidade
cientistas descobrem Alpes submersos na Austrália

na contracapa um coração selvagem pela metade
o cheiro de perto do sal um potro de pulmões novos

e o mar, ah oceano cavalgadura,
absolutamente estrangeiro a mim nesse interior sem tamanho

eu juro que esse túnel não acaba
estão nos levando a um lugar de verdade.

16.7.09

hoje

eu tive que arranjar um dois copos de café/ um bilhete de identidade d'um português/ cozinhei um lombo com sal grosso/ inventei um nome / recebi um presente eletrônico / um amor em folhas de liz/ maria bethânia canta roberto / o cabelo sujo deixei / um telefonema de obrigado por me levar adiante / do supermercado, o açúcar / recomendei um hotel/ me gritaram um aluguel / juro que eu não presto/ inventei um nome / tomei um tylenol/ pra conseguir fazer o mais difícil até agora / escrever / me sinto indo pra escola / não sei como vai ser voltar / agora que eu me divirto / três malinhas do meu meu irmão / mais o velho álbum de fotografias dos hansen / minha casa de infância foi vendida / vim ver meus gatos não me ligam / a vida a rosa o som/ se um carro q'eu fui, viajei.

12.7.09

vale dois

quem sabe brincar de telefone sem telefone
CANÇÃO DE BERÇO

O amor não tem importância.
No tempo de você, criança,
uma simples gota de óleo
povoará o mundo por inoculação,
e o espasmo
(longo demais pra ser feliz)
não mais dissolverá as nossas carnes.

Mas também a carne não tem importância.
E doer, gozar o próprio cântico afinal é indiferente.
Quinhentos mil chineses mortos, trezentos corpos de namorados sobre a via férrea
e o trem que passa, como um discurso, irreparável:
tudo acontece, meninina,
e nada fica nos teus olhos.

Também a vida é sem importância.
Os homens não me repetem
nem me prolongo até eles.
A vida é tênue, tênue.
O grito mais alto ainda é suspiro,
os oceanos calaram-se há muito.
Em tua boca, menina,
ficou o gosto de leite?
ficará o gosto de álcool?

Os beijos não são importantes.
No teu tempo nem haverá beijos.
Os lábios serão metálicos,
civil e mais nada, será o amor
dos indivíduos perdidos na massa
e só uma estrela
guardará o reflexo
do mundo esvaído
(aliás sem importância).

Drummond, no Sentimento do Mundo.

- -
arde em prata.

meu destino de vitrine

estou fascinada com meu castelinho. olho o meu cinismo nos olhos dos outros. de repente o mártir. de repente o léu. vou viver numa casa de jornal como a ilana sonhou uma gelatina verde cobrindo os livros e depois dançando violeta púrpura. no cairo. cairo da minha vida/ minha infância perdida. posso ficar aqui até amanhã. depois vou ter que ir. dizer: adeus. na hora do aviso prévio, meu bem, eu já perdi o ímpeto. eu vou ficar aqui sentada e vocês vão estar esperando alguma coisa acontecer e daí pá nenhuma coisa aconteceu. tipo estalinho de vela de bolo. a gente aceita. a cada um cabe o morango que lhe dão. ou que consegue? a sorte existe? porque agora eu descobri três longos trânsitos de saturno: depressão, pobreza, falta de cabelo. vou começar a passar queratina em dinheiro. gente, agora só em euro. eu vou dizer: que merda. deviam inventar uma língua só pro euro: e nela dizerem: "que merda de euro". nada de ovos orgânicos, frescoball só daqui 100 anos. e os meninos a tomar gelado/ na nuca/ na testa. vovó mesmo que me perdoe. vovó disse pra mim aos 87 anos que aprendeu aos 75 que o mais importante da vida são as emoções. foi o chapéu que a vida deu nela. a vida sem aviso prévio, saca? a vida meu amor/ a vida meu amigo/ pode ser bem uma espiga de milho. num sex shop uma vez eu vi um milho que era um telefone, mas que na verdade era um vibrador. um microfone eterno tocando billie jean em cima da minha tristeza. de repente vem alguém e diz pare. daí eu digo solidão não é nada/ depois disso/ nada é nada. eu não tenho nada a ver com isso. vou te dizer o que me disseram: imagina se a lua, meu amigo, a lua, sabe? imagina se a relação da lua com a terra puxa o mar, sabe o mar misteriôso mar, de embalar doçura e medo, mar mar mar mar mar mar mar mar (a palavra mar encadeada parece um endossamento de elefantes sobre a aldeia índia) mar é a lua quem te puxa. teu corpo imenso, imagina meu corpo, honey beibe, não sei você, ma' eu tenho 75% de água. tô falando. não tem pra ninguém.

esse poema abaixo não fui eu que escrevi

- - -

texto tem que ser justificado

- - -
tirei não era pro teu bico

.

só o rock and roll pode revitalizar um espírito a fundo fatigado de si/.

radiohead alto no mato/ e eu com saudade do donato.

11.7.09

hoje por sua vez eu quero dizer

meninos, eu amo vocês!!

- -
ok, pessoal, depois de até minha mãe me acordando hoje cedo pra dizer que hoje inaugura uma exposição que tem tudo haver comigo em são paulo quem falar comigo de sophie calle vai assistir o te dou um alho.

- -
eu queria uma coisa tipo a lua. mas que fosse oco. que me desse um soco. tô xreganu não. tudo




ou é como
ou até o amanhecer/ quando estávamos juntos sempre amanhecia

beijos,
ju lee

(foi o b. que inventou)


9.7.09

5.7.09

domingo

sonhei que você escrevia um diário
e no teu gesto se apagavam

você seria um homem ainda mais interessante
se escrevesse um diário que ninguém visse

e um dia você morresse e eu estivesse
guardando tuas coisas e o teu diário sumisse

1.7.09

é preciso de tempo
pra essa tristeza
acontecer
cavar o tom
calada
e na noite que espreita
descobrir o mar.

*

citação de mim mesma no passado: "a entrar pelo coração, esses mistérios que escondem metáforas. mas tenho um trecho. minha cabeça anda como as músicas do radiohead, confusas e limpas, nada estéril e certa".
 

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