25.12.08

guantanamera

No sonho que o paul teve nesse natal morria ele no lugar do john uma injustiça as cinzas não incendiarem raízes de alguma orquídea filipina um terror ninguém aqui pra me dar a mão ao entrar na terra

E os redondos óculos que nunca usei pousam enquanto meus olhos fechados esperam ainda sobre o criado mudo ao lado das pílulas e do telefone branco desse hotel como vou conseguir o telefone da yoko? já faz tempo também

Paira essa nuvem de piano o paraíso é mesmo como eu branco tocando imagine sem o rancor do homem de lugar nenhum eu nunca mais esqueceria esse acorde todos os meus problemas de repente numa pá de cal

E a sonolência me fez perceber que não era tão difícil assim ser um beatle morto havia anos o fim do vietnã, os cotocos de homens voltando, os flashs de cameras mas espera eu sei que foram eles que mataram diana,

Vestido de caçador debaixo da chuva da xícara de papel estou com essa palavra enterrada e os cabelos crescem como jornais e prudente amanhecer certeza devia ter morrido

Era o amor anfíbio da água parada e era todo e aquele que usasse uma guitarra e cantasse um canto ameno e que não fosse um anjo e que não tivesse um rock and roll

24.12.08

quem me dera

hoje todos os que conheço estão com os seus, ou estão fazendo questão de não estarem. mais uma vez acordei de um jeito que a única coisa que me interessa é o mar. não sei mais escrever.

23.12.08

terra estrangeira



essa cidade que eu plantei pra mim
essa noite, tive um pesadelo. não sonhava assim desde a suíça. dessa vez não acordei berrando. e ao abrir a janela não havia montanhas para olhar, mas os prédios, não sei quais lições de duração eles podem me trazer.

sei que o sonho era o seguinte: havia uma grande estrada de terra, era de noite e eu andava por ela sozinha. não tinha medo. de repente passava um ônibus com toda a minha família dentro. alguns estavam de pé, animados. não me viam. e eu pensava que precisava segui-los e subia a colina adiante correndo correndo e correndo e o ônibus da minha família subindo subindo e eu atrás.

subia tão alto que parecia a estrada do castelo dos mouros em sintra. numa curva perdi de vista. quando cheguei lá em cima, arfando, encontrei um grande casarão todo fechado e o ônibus parado, todo vazio e incendiado. de dentro do casarão latiam cachorros e sem vê-los eu sabia que eram pastores alemães. voltava até a estrada e a noite era muito larga. eu estava sozinha.

do chão peguei várias pedras, cascalhos e comecei a atirar no horizonte da noite escura. atirava a pedra contra a noite e berrava. muita raiva. alguma coisa me dizia que se eu voltasse pela estrada encontraria-os. mas isso, só conseguia pegar as pedras e atirar em direção ao nada. não sei porque, mas só essa parte se parecia com um pesadelo.

amor de dupla

eu sou o chitão
ele é o solimões

22.12.08

21.12.08

a árvore do desejo

meu pai ia até cotia e comprava em algum recanto do fazendeiro ou loja de planta um pinheiro de natal num vaso. levava para casa e eu gostava quanto maior ele fosse. se precisasse de escadinha pra pendurar os enfeites, melhor! era disso que eu ia falar, de como gostava de uns dias antes do 24, puxar para pisar a cadeira de couro de grupo escolar do estado e tirar do armário a caixa de enfeites. o papelão a cada ano mais esgarçado e os enfeitinhos, como meninos empoeirados. e em frente a nova árvore que continuava sempre o mesmo pinheiro, pendurava os decorativos, bolinhas de metal, bonequinhos de madeira, casinhas de cerâmica.

até que veio um ano e alguém me deu, antes do natal, uma caixa de pequenos tsurus brancos amarrados em linhas e eu os pendurei dezenas pelas linhas nos galhos. não me lembrava disso quando fazia os tsurus de papel com dedos de vidro na biblioteca pra esquecer um amor esquecido. às vezes as linhas arrebentavam e eu só amassava os passarinhos, jogando-os no fundo da caixa com os estilhaços das bolinhas de metal muito fino.

teve um outro ano, ninguém olhando, num impulso arranquei a tomada de energia elétrica das luzinhas coloridas que piscavam no pinheiro e enfiei na boca, chupando. tomei um choque! na boca! meus lábios grudaram um pouco. não sei o que aprendi ali e nem quanto isso me marcou. foi horrível e tive vontade de rir. acho que, em verdade, dei um grande riso.

20.12.08

mutismo

o mais estranho nesses últimos dias não é o tempo, é que não tenho sentido nenhuma urgência da escrita. mas quanto mais isso me acontece, menos a palavra me deixa dormir.

resolvi sentar essa tarde aqui contra a insônia.
e a flora perseguindo os mosquitinhos que se refugiaram da chuva.

- -

17.12.08

terra

ou estou aqui sentada no mesmo lugar em que me sentei. quando? poderia dizer, lia um livro ou outro, passava as noites com quem, mas, não há. não há nada disso. nem os pés são os mesmos. cada época mutante, cada uma um modo de escrever diferente que existe, vai na minha frente e quando quase o alcanço, gira-gira. sou toda uma série de gerações. performática, silenciosa, cinzeiro. diferença entre a da poesia e a da crítica? somos duas. há muito vejo engenhismos. um ruído de roldanas que hora ou outra me impede de dormir.
ou saudades de alguém no meu corpo. enquanto isso, ausência, só ausência. e a pessoa desmedida em ser um buraco. não sei qual das duas não acreditava na existência do amor.
ou uma menina se levanta e pega a terra vermelha da poça e espalha pelo dedo indicador, atravessa a rua angular do antebraço com um risquinho de índio apache: o tracinho: confia, diz-me mãezinha. confia que tuas palavras sabem o que são: lagoa que vai dar em rio. se divertem alheias, não te desprezam como as do poeta, essas são tuas, não riem de ti, estão aos bolsos: existem. como também confia, confessa que achava que vinha da gente, mas não, chuva não são palavras, muito menos nossas, e não importa para elas, uma hora atingem a ilha de carne, um terceiro uso há de ser criado, mudo, enquanto não for hora de partir. agora isso é , só uma margem redonda, daquilo que chamam água.

16.12.08

how to be free



like the birds, like the bees

14.12.08

um ano do cão

Sou para mim mesma como um cachorro
às vezes o chamo de filho
e rolo a bolinha vermelha,
nem sempre ele vai atrás,
embora no escuro me rangendo
os dentes baba, é um estúpido,
late e rebola a cauda pras visitas
Desconfio que é ele quem rói
cebolas pela casa gota a gota
e de manhã a camareira do seu
hotel limpo com o kleenex gasto
Passo semanas sem vê-lo
embora na mesma sala empilhe papéis
jogos de montar, enquanto ele,
esquecido, dorme
Nunca a céu aberto
é um cão de compartimentado
na estante das vértebras é um peito
porta-porções fraterno largo
não ao amante todo meu cão é cruel
afeto, de fazer destino contra vontade
Embora finja, às vezes, a loucura dos mendigos
não sabe suspeitar a chuva
nem nunca confunde trovões
com estrondos nas noites de festa
quando ao longe ouvimos os artifícios
eu sorrio, ele tapa as orelhas caídas,
O cão é com quem atravesso a rua no colo
no momento de ano-novo
na noite de reveillon
da cidade em que nasci
É tanta luz dos nossos olhos
que dele no céu se confundem
às vezes o fogo cão me cega
e eu lhe sigo, em órbita
a lambida na minha mão pois
se do mar fosse marujo, lobo
o sul nossa estrela e cruzeiro
a sua língua é uma onda
a dobrar ternura sobre meu dedo.

8.12.08

história natural

ele pode até gostar dela
mas que sei eu das minhas próprias mãos?

5.12.08

amor

CENA DE SANGUE NUM BAR
DA AVENIDA SÃO JOÃO

4.12.08

d.C

sonhei com o real
sexo
& jesus cristo
coisa e tal

dia desses chego
a ser uma coca-cola

imaginação =
coleção
de imagens

?

tô adiante da minha memória
esse é o problema
horas de amsterdam e horas de lisboa
o relógio da cozinha com o horário da holanda
na 25 deve ter o de taiwan
agora, eu, outdoors dos olhos
vou até a bienal
comprar um jornal

2.12.08

amor

não sinto nada
é a lama é a lama
é ele quem vai partir
fico entre os escombros
mulherzinha na caçamba
a noite se estende cor
de rosa um céu mórbido
a umidade abafa o ar
como calços numa porta

1.12.08

amor

estou grávida de ti estamos a ver os patos a coachar e os marrecos correndo as canelas dos bandidos e na hora que estou quase parindo você me olha à meia luz e diz: ESTOU CERTO DE QUE O FILHO NÃO É MEU SUA MENTIHOROROSSSA e vai embora batendo a porta e apagando as velas depois sou eu que fico com o coração batendo abandonado vagabundo feito tatuagem vagabundo
 

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