31.7.06

maybe monday, maybe not

todas as coisas têm o mesmo valor, porque estamos milionários e todas elas morreram. é impossível se ter dois olhos, toda paisagem é inútil quando só se olha pra dentro.

você me amassa a cara atrás da biblioteca, na parede de pastilhas brancas, me envolvo tanto no seu corpo até virarmos de plástico, uma cortina de chuveiro pra qual alguém olha e o foco na estampa se perde, meus dedos, meus desenhos, meus amigos, somos todos ovelhinhas brancas tosadas no meio da noite e morreremos de frio.
levanto da cama, tomo o café que a minha mãe me prepara na boca, de fora pra dentro, de dentro pra fora, hurricane no meu estômago, beibe. desço, viro a esquina, "você é meu ilegítimo amigo?", penso, enquanto olho a loja de cristais. a vendedora sai de dentro da loja, derrubando o balcão, me toma pelas mãos e diz: 'como você está diferente', eu respondo com os astros e lacan e, pergunto, 'você sabia que quanto mais seco fica, mais flores os ipês dão?', ela arrasta o pescoço numa negativa que encosta a cabeça no chão. penso que deve ser por desespero, dela e do ipê, que as coisas são assim. as coisas. eu não, apesar de uma coisa.
peço ao atendente do açougue "um jornal, por favor, que não esteja úmido, de ontem ou de antes de ontem", ele me dá o nossas coisas são coisas nossas de 2008 e vou dar na praia, sentar num chão de areia cristalina oposta aos brutos flocos de mar. a brisa ruge, me inflama as faces e atravesso a rua novamente, esqueço o deserto, olho de frente as montanhas e no alto do pasto vê-se mais que um arbusto, um boi mugindo que a umidade arrebenta mariscos.
sistema temporariamente indisponível.

28.7.06

é horrível morar num lugar inóspito: as paredes entopem, os gases vazam e receio.

25.7.06

when the music is over


nesse fim de tarde, meu maior incômodo é tudo o que eu tenho. eu já tive mais paredes, mais arredores, muito mais medo, agora é a cidade, beibe, a cidade. como eu vou sair da cidade nesse momento? quantas vezes por dia eu notava que eu tinha perdido o fio, enquanto ele nunca saía da inconstância? mas tem a saída, olha e não é pela porta, olha, e me trazia pra perto assim mesmo e me queria delicado, de qualquer maneira, toda hora. teve essa semana boa também, eu pela primeira vez em anos me recoloquei, quis e fiz, falei. com um ritmo diferente de tudo, ela me dava uma vida inteira numa só frase, com quitutes, brioches. e eu mesma preciso dormir um pouco mais. e nos veremos em outro lugar. havia também generosidades mais mórbidas que me pedem que eu não sonhe, não, que eu não queira! e me dá uma face ao beijo e depois me dá as duas e eu de início não sinto a anestesia. escrevo, em ausência, o que mataria teu aspecto: "só não sonho com ele quando eu durmo com você ou eu só não sonho com você quando eu durmo com ele?" eu disse, nunca tive fio, nunca tive fio. meu melhor amigo me recria em um só passeio, agora nós nos desentendemos pela permanência. ele sabe que eu nunca tive fio, então é pra ele a destinação.
"as coisas nessa casa estão quebrando. depois que eu perdi umas paredes, criei uns vãos e ganhei outras pras quais hoje eu escolhi a cor. na uol dizem que as estradas estão tomadas por criações para uma outra estratosfera. estou vivendo a sensação da âncora , a garganta arranha até o fim da manhã, à noite eu vivo de nariz doendo, o dia todo as partículas de fuligem colando na pele, vou ter que limpar vou ter que limar a cidade pra fora da pele, eu preciso sair dessa nossa cidade, senão não quero sair de casa e eu não quero deixá-los. " ele me fala que eu tenho razão, e daí?, a cidade é o labirinto novo e o eterno, "ao mesmo tempo", e rimos até a tosse.

12.7.06

the carpet, too, is moving under you


tudo ainda é tal e qual e no entanto nada igual. ou das estagnações em mudança?
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"Dois dias de viagem apartam um homem- e especialmente um jovem que ainda não criou raízes firmes na vida- do seu mundo cotidiano, de tudo quanto ele costuma chamar seus deveres, interesses, cuidados e projetos; apartam-no muito mais do que esse jovem imaginava, enquanto um fiacre o levava à estação. O espaço que, girando e fugindo, se roja de permeio entre ele e seu lugar de origem revela forças que geralmente se julgam privilégio do tempo; produz de hora em hora novas metamorfoses íntimas, muito parecidas com aquelas que o tempo origina, mas em certo sentido mais intensas ainda. Tal qual o tempo, o espaço gera o olvido; porém o faz, desligando o indivíduo das suas relações e pondo-o num estado livre, primitivo; chega até mesmo a transformar, num só golpe, um pedante ou um burguesote numa espécie de vagabundo. Dizem que o tempo é como o rio Lete; mas também o ar de paragens longínquas representa uma poção semelhante, e seu efeito, conquanto menos radical, não deixa de ser mais rápido."
thomas mann, na 2a. página d'a montanha mágica.

9.7.06

"estivemos olhando notas de rodapé com uma lupa, esperando que virassem romances. é como estar condenado a uma Jacuzzi perpétua com milhões dos seus melhores amigos." do junkspace, rem koolhas, traduzido por

uma vez muito me envolvi com clarice lispector dizendo que era culpa da inteligência a incapacidade de colher as coisas com mãos puras. clarice lispector diz muitas bobagens. a calma também vem pela inteligência, respostas sossegam as pessoas.
às vezes descubro, por exemplo, que um fruto não se alimenta de mim. às vezes por uma ordem inversa, uma flor me morde a mão e eu descubro solidão nos seus gestos. às vezes as portas todas escurecem, mudam de tom e viram paredes. a ansiedade vira um radar em busca de um retorno ao frescor e, assim, o fruto é uma procura de um gosto determinante. e o azul é de uma abrangência significativa que envolve até o fruto, da dor, o amor, o sorriso e a flor.
sabe, ontem eu vi o mar com essa ansiedade. a terra continua redonda mas eu nem reparei. ouvi só o mar indo e eu perguntando. perguntando qualquer coisa que fosse. foi daí quando ele voltou, invocado me dizendo que a resposta é sempre a mesma.

5.7.06


laerte, o homem-síntese de sempre, na folha de hoje.

2.7.06

um lugar em que eu fui feliz


el pontilõn próximo aos b's de minas. quem não se lembraria?

Epígrafe


preste atenção, o mundo é um moinho
Minha vida não é essa que destaco. Embora sejam inúmeras, essa não é a que escondi no silêncio ou na recusa. Essa é uma variante do que eu poderia dizer: “é o que eu digo” e portanto, estamos falando de uma opção anterior a você. Já minha vida, não, minha vida é simultânea a você. E toda a minha memória não vai mais se dividir, necessariamente, numa qual eu reajo ao desmentido e noutra que afirmo abajures, luminárias? Os lastros: se tudo é memória, garanto que me esqueci de algumas partes.

Esse pedido de clareza que lhe faço não é só por ansiedade ou receio. Se eu garanto que nessa vida conheço pessoas nas quais acredito e pelas quais eu, criteriosamente, morreria, então não sei se é por astúcia ou hábito que você se pergunta: por que pedem para não crer? Não se equivoque com tanta habilidade, não é isso. Só almejamos ao desengano com justa amabilidade, ao mesmo tempo que não garantimos que a falha esteja gasta ou em desuso, fora da validade. Quero é que se esqueça esses critérios pela razão simples de que são critérios, oras, é só abrir um noticiário como o da Softspot com meia década de diferença para saber que eles tem uma só constância: a da mutação. Veja só, pedindo desproteção ao Estado que é o indivíduo.

Não se matem ainda.

Lembre-se dos homens com os quais você já esteve, se não há depressão ou prozac um homem diz preferir jogos-americanos a toalhas de mesa, abacaxi e não banana, repulsa social e café sem açúcar, medo de solidão e conseqüente solidariedade, etc, como postos de gasolina que desaparecem ou não quando o combustível acaba: é só disso que se trata? Sim, é. E assim, desfazem-se as relíquias.

A generosidade é sempre um gesto de maior solidão: me abandonei em meio ao percurso e sobrei num escuro tão nítido que eu prefiro lhe dar o que, sobrando, me ausenta. Se é nessa generosidade que o meu gesto se sustenta, minha memória deixa de ser banal, porque agora é sua. Não há o que não se canse de todos nós.
Diz a voz: “Eu retornarei. E infinitas vezes tornarei a voltar. E retornarei a voltar? Não, acho que isso não configura um retorno. Ou?” Ora, na maior parte das vezes, o diálogo nos restaurantes se dá em dois tempos que de tão distintos, chegam a ser infinitos? Abismo que cavastes com tuas palavras.
 

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